Poetisa-me

Olá ser vivente, insanamente coerente, cheio das falas mais estapafúrdias, dos complexos terrivelmente mundanos, dono do palácio da verdade, senhor da mais egoica maldade, seja bem vindo ao mundo que construiu. Pode parar de incomodar quem está fazendo diferente, seu ódio supérfluo já não nos atinge mais. Toda essa asneira que está acontecendo é o fruto do seu trabalho, eu só espero, com toda a minha sinceridade, que você colha esse fruto, sei que não está acostumado a colocar a mão na massa, mas espero seja você quem sinta essa podridão preenchendo todos os seus espaços de existência. É uma pena outros, muitos outros, terem que morrer antes de você, mas sei que sua vez chegará da maneira que você merece, não se inquiete. Bendito seja o fruto da sua mesquinharia. Talvez você não verá a angústia e o sofrimento, pois a vida te levará de qualquer jeito, não vai querer ver você modificar ou se transformar em algo melhor, acho que ela já sabe que gente como esse bando de gerente já não tem ...

    Quem diria, vida, todos esses momentos que não valorizamos nos deixaram sem comando, fomos ultrapassados por essa lógica destrutiva de aniquilar tudo o que conseguimos ver. Gostaria de te dar alguma lógica nessa jornada, mas a possibilidade a ser explorada é apenas ficar aqui. Não existem mais expectativas, não é possível uma tranquilidade sem se desapegar de tudo o que antes existia.     Há quem continua a se enganar, quem está desesperado tentando manter as mesmas estruturas do passado, mas o terremoto já desmoronou tudo, quem está nesse lugar está se prendendo em ilusões, e só dá para saber que o desespero não vai acabar, pois toda a ilusão uma hora cai. Estão caindo céu e mares, e mesmo assim existe quem não desapega dessas estruturas obsoletas.     Pensei que muita coisa iria mudar de maneira consciente, mas estou vendo que se faz necessário muita dor e perda para que nada se aprenda. Como é possível tanta apatia? Em que estado de dormência nós che...

Estou cansada de andar com a alma lavada De mostrar todas as minhas navalhas Cansei de te ver Cansei de te esquecer Estou correndo no tempo Dilacerando meus entendimentos E nem por isso te vejo Nem por isso te esqueço Estou entre a cruz e a espada Tentando fugir pela mata Mas não encontro seu olhar Não esqueço seu caminhar Estou tentando o meu melhor Mas só parece que fico escorregando no meu pior Quero achar o seu vestígio Quero encontrar o que havia esquecido Estou tentando descansar nessa insanidade Parar um pouco, bem longe da maldade Mas meus olhos estão a se fechar E eu estou esquecendo de me deitar Estou tentando fazer algo que preste Mas nessa vida só querem se satisfazer E não consigo escrever sobre amor Esse poema é sobre o meu torpor, ou horror Estou caindo de sono Sem oxigênio no corpo E não consigo mais ver amor Pois esqueci de desligar as notícias no celular

Ó pobre homem! Não sabias que ele não era nobre? Achavas mesmo que um mentiroso compulsivo lhe daria abrigo? Esse homem quer seu juízo final, quer mais é que morra como um pobre cachorro sarnento e abandonado. Ah é, ele não tem culpa de nada! Havia me esquecido que ele não sabia que estava concorrendo há uma vaga de emprego, foi sem querer querendo. O falso messias vomitava mentiras à torto e direito, sempre condenando a esquerda, mas você gostava dessas baboseiras, desse discurso regado a ódio mal temperado. Ele é como você, uma carniça putrefando a céu aberto. Entendo seu posicionamento, é o lugar de quem se identifica com essa ameba inescrupulosa. Espero que na próxima você seja mais esperto, mas sei que não vai aprender nada, você é só um burro na manada, tenho nojo quando dizem que eu sou da sua prole. Tome mais um gole do remédio barato, quem sabe não vai ter matar que nem rato, um infarto na responsabilidade coletiva. Certamente será necessário menos oxigênio, menos gastos com a...

    Já faz um tempo, encontramo-nos na margem desse rio sombrio, eu achava que estava liberta, que era a minha caminhada singela, mas quando percebi você estava a me agarrar o braço. Você é diferente do que estava acostumada, estou caminhando praticamente sem pausa, vagando, e em muitos momentos quase não sinto teu peso.     Antes ficava no papel de inocente, era o que o Barba Azul me permitia, ser uma ingênua menina. Só que chegou um momento em que soube que nunca estaria segura, não importava quão forte fosse a fechadura. Desobedeci as ordens, mas não quebrei nenhum protocolo, ele ficou confuso que só, chegou a dar dó, mas sabia que ali por muito tempo não duraria. Comecei a buscar alternativas antes mesmo de sinalizar alguma culpa.     Eu sei que deve estar pensando que fui fria e calculista, mas estava no limite da alma, já não tinha mais nada, beirava o colapso, as minhas emoções não estavam afloradas, já haviam se esvaído com a minha calma. Só me...

A água afaga toda a possível mágoa Todas as caminhadas mais árduas Não achei que chegaria aqui para te dizer Mas nem todo bendizer Vem ao mundo por querer Estava esperando encontrar o bando Fazer parte nesse disfarce Só que tropecei e ando meio manco Queria um espaço no sol Queria mais do que a concha do caracol Desfazer-se em pedaços Como todos os empasses Exige a habilidade de mil faces Mas você está aqui sem querer Esperando o milagre da vida Derreter-se antes de escolher Entendo a razão que escorre do seu desespero Mas espero esse desfecho no meu próprio aconchego  Tornar-se prosperidade Tem mais a ver com resolução Do que com projeção Despi-me em vaidade Para reconhecer a imensidão E entender que só me cabe ser intensidade

    Não seja hipócrita, não é cansaço, é essa política individualista e neoliberal que quer fingir que você não é manada, então mata toda o conceito de coletivo, e aí, você fica nesse limbo, achando que é o único alecrim dourado, que criou a roda que carrega o papa. Qual é a desculpa que você usa dessa vez? É saúde mental, ou será que a saúde que se foda eu quero o meu plano atual? Está sentindo que precisa cobrar todos os seus direitos, pois onde já se viu limitar a gente que pode pagar! Não é dinheiro, é vida. Como se paga isso? A maior decepção de quem acha que manda em algo com seu dinheiro, com sua empresa, com seus privilégios, é quando percebe alguém, que julga pobre e miserável, pobre-coitado, usufruindo da sua liberdade, escolhendo não permanecer no favor que acham que estão lhe fazendo. É isso minha gente, ninguém é obrigado a ficar, tem gente que entende que existem coisas que não são possíveis de se comprar. Pode falar o que quiser, tentar limitar o que obtiver, ma...

    Gostaria de saber o melhor lugar para começar a narrativa, que afinca toda a magia da construção dessa vida na sua maneira de descrever. Mas confesso que não sei ser bem assim, precisa nas permanências, já que entendo que viver é um constante mover. Penso em várias coisas diferentes, mas lembro que essa vida é minha e não de toda essa gente, e se não for aproveitar o caminho, o que vim fazer aqui? Viver se basta, e nada mais.     Tenho ganâncias, arrogâncias, defeitos e conceitos, mas consigo esperar por um momento, mesmo com tudo me corroendo, mesmo com todos os tropeços, aprendi a julgar menos o tempo, só isso, não aprendi a fazer melhor, só me cuidei para deixar de ser. Simplesmente difícil. É isso. Criar abrigo no meio do redemoinho. Quando começo a refletir, vejo que já fui longe demais, estou aqui com cada vez menos bagagem, mas ninguém quer saber, esse não é o tempo da capitalismo, deveria ter produzido mais do que convívio.     Vim aqui confessa...

Qualquer dia Atravesso aquela esquina Aquele dia Em que desatina O dia Que nos deixarão fazer parte da festa junina Talvez um dia Eu faça rimas com coisas que consideras mais bonitas Pois de dia Só me dizem aberração congênita E não há dia Em que possa deixar de estar faminta Um dia Espero continuar sonhando Com outros dias De possibilidades que vão acumulando Nos dias Em que passamos tranquilamente pelos afazeres mundanos Espero um dia Qualquer dia Aquele dia Com outros dias O dia Pois de dia Nos dias Em que não há dia Talvez um dia

    Vamos lá, mais uma vez, explicar para o farroupilho de onde vem os empregos primeiro para os médicos daqui, o que chega a ser ridiculamente engraçado, pois a única classe a ser defendida é a rica, a única que tem o direito de usufruir da vida, de todas as leis, e quem mais precisa, quem está desamparado, sendo exorcizado nas margens do sistema, ah não! Esses não! Empatia não! Um preto pobre morre e já tem mais doze que acabaram de nascer para preencher o seu lugar na miséria. É querido, queria te dizer da onde vem a sua riqueza, como você conseguiu ser chefe de uma grande empresa, como você ainda pode falar tanta asneira e ser considerado um exemplo para sua bela espécime, espécime de porcos derrotados golfando o próprio ódio que lhes consome por dentro. Vamos lá, mais uma vez ignorar a bestialidade que personificas, a entidade das contradições mais pobres que vocês conseguem ser. Estamos no mesmo mundo, então tenho direito a essa vida, esse é o meu ato de resist...

    Escrever sobre escrever deveria ser uma ousadia, mas parece mais que é hábito, rotina. Já perdi a noção de quantos poemas decidiram falar sobre si mesmos. Parece tudo besteira, perder tempo com essas asneiras das mais belas mazelas. É um misto de indignação e inveja. É como se eu não existisse na minha própria escrita. Mas já sei, é esse ego inflado, alimentado pela individualidade suprema. E se só formos mais dos mesmos? Mas não, preciso falar sobre mim mesma, mesmo que não valha a pena da galinha depenada.     A gente fica criando a própria criação, numa corda bamba entre criar fantasia e mergulhar nessa disritmia de vida, e ninguém diz pra que serve tanta imaginação. Poderia ser muitas soluções, mas acaba sendo apenas uma eterna tristeza da insignificância que somos nesse mundo corrompido e hipócrita. Achei que ia trazer palavras belas, ou singelas, mas perdi toda a noção do que significa essa razão. Fico escorregando nos meus melismas, prolongando o que dever...

Fui, dei meu adeus e me recolhi É o momento da introspecção, de ouvir a voz da minha razão A minha voz que é razão Já deu, o tempo da fala que seria de alguma escala A proporção do tempo me deu o rumo do vento Não é preciso seu entendimento, só vou ficar aqui ao relento Ficar só, e teu jeito que permaneça seguindo o próprio tempo Não precisamos viver os mesmos momentos Que a vida te sirva de instrumento Para um melodioso bolero, ou um samba frenético Que seja teu o toque do instrumento Pois estou no rumo do meu aconchego, e acho que é o momento do selo De fechar a porta, pois já sei que não se deixa qualquer um entrar Mas é da minha chave que estamos a falar Siga seu rumo, abrindo as portas onde quiser entrar Já fui por esse rumo, e sei que não posso te impedir de desfrutar Não me resta abuso, então saio para no meu silêncio me banhar Não vou pedir desculpa por não poder compartilhar Existem momentos que só cabem ao tempo, não estou aqui para julgar Não estava criando caso, mas acho qu...

    Está tudo bem a sua cara amarrada, sei que você não tem a alma lavada, que está com a sujeira de todas as suas empreitadas escorrendo em sangue vivo na sua cara. Sei que o reflexo que enxerga no espelho te diz que a sua pele é a mais bela, mas só consigo enxergar todo o horror que você tenta negar. Mas não estou onde estava alguns anos atrás, sei que não adianta gritar aos quatro ventos, e nem sair correndo, estou pacientemente me afastando do pior que você me ofereceu. Não, não sou o exemplo da bondade, mas pelo menos enxergo toda a minha ruindade, e não espero nenhuma reação plausível da sua razão. Estamos em profundidades diferentes do mesmo oceano, não sou a superfície que enxerga o sol e bate na pedra, sou o fundo que abriga toda uma fertilidade de vida, um funcionamento próprio que não serve como teu solo, sou o início da sua perturbação, antes mesmo de você achar que sabe o que vai acontecer. Não é todo mundo que entendo o fluxo da maré, meu breve recuo é o tsunami ...

    Nem sei se meia idade chego a ter, afinal não sabemos o dia em que vamos morrer. Se nos chamássemos eternos desencontros, acho que seríamos mais dos mesmos. Como pode tanta solidão com essas infindáveis conexões? Tenho dificuldade de ficar nesses tempos, parece que só arranjo defeitos. Qual será a minha idade nesse tempo de desalento?     Pensei em escrever para você, mas as palavras que consegui não eram só poesia, eram melancolia em demasia. Fui agressiva e tímida, então decidi nunca mais pensar em te escrever. Estava com vários planos para a minha vida, mas acabei errando a saída e fiquei presa nessa etapa sofrida e comprometida.      Por alguns instantes achei que você conseguia me ver, mas era só uma miragem do meu entender. Sinto-me tão presa e ao mesmo tempo solta, trancada no vácuo, sem conexões que me alcancem, sem conseguir me movimentar no tempo exato. Está tudo estranho, e estou vendo que essa vida é permanecer sozinha.     Es...