Autorretrato - Vim aqui lhe falar, querido
Já faz um tempo, encontramo-nos na margem desse rio sombrio, eu achava que estava liberta, que era a minha caminhada singela, mas quando percebi você estava a me agarrar o braço. Você é diferente do que estava acostumada, estou caminhando praticamente sem pausa, vagando, e em muitos momentos quase não sinto teu peso.
Antes ficava no papel de inocente, era o que o Barba Azul me permitia, ser uma ingênua menina. Só que chegou um momento em que soube que nunca estaria segura, não importava quão forte fosse a fechadura. Desobedeci as ordens, mas não quebrei nenhum protocolo, ele ficou confuso que só, chegou a dar dó, mas sabia que ali por muito tempo não duraria. Comecei a buscar alternativas antes mesmo de sinalizar alguma culpa.
Eu sei que deve estar pensando que fui fria e calculista, mas estava no limite da alma, já não tinha mais nada, beirava o colapso, as minhas emoções não estavam afloradas, já haviam se esvaído com a minha calma. Só me organizei para sair, e ele não quis me ouvir. Quando consegui é claro que foi um escândalo, por um momento achei que conseguiria ir sem qualquer dano, mas foi um ledo engano. Corri tão rápido que parei aqui.
Às vezes sinto um pouco de dificuldade de movimentar o meu braço, você me segura demasiado forte, mas tudo bem, estou aproveitando a minha sorte, percebo que você está preocupado com o meu viver. Quanto tempo mais precisaremos aqui permanecer? Acho que já estamos a salvo, livre dos encalços, só gostaria de me desprender por um instante para poder sentar e descansar. É só para tomar um ar.
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