Autorretrato - Meia idade

    Nem sei se meia idade chego a ter, afinal não sabemos o dia em que vamos morrer. Se nos chamássemos eternos desencontros, acho que seríamos mais dos mesmos. Como pode tanta solidão com essas infindáveis conexões? Tenho dificuldade de ficar nesses tempos, parece que só arranjo defeitos. Qual será a minha idade nesse tempo de desalento?
    Pensei em escrever para você, mas as palavras que consegui não eram só poesia, eram melancolia em demasia. Fui agressiva e tímida, então decidi nunca mais pensar em te escrever. Estava com vários planos para a minha vida, mas acabei errando a saída e fiquei presa nessa etapa sofrida e comprometida.
    Por alguns instantes achei que você conseguia me ver, mas era só uma miragem do meu entender. Sinto-me tão presa e ao mesmo tempo solta, trancada no vácuo, sem conexões que me alcancem, sem conseguir me movimentar no tempo exato. Está tudo estranho, e estou vendo que essa vida é permanecer sozinha.
    Espero não ter meia idade ainda, e as vezes espero que já esteja no fim da vida. Gostaria de saber se o destino fez algum plano, ou se ele levantou de ressaca e seguiu o primeiro rumo que viu para estar bem longe daqui. Estou tentando acalmar a minha mente, mas minhas palavras não são suficientes. Quero fazer algum plano para esse ano, mas acho que já perdi o prazo para a inscrição. Nunca entendo como é que as coisas vão.
    Pensei que a crise só vinha na metade da idade, mas acho que sempre estamos em alguma metade de algo que ainda vai se completar. Olhei para o relógio marcando o tempo. Meu ciclo não é voltar para o mesmo lugar. Então é isso, escrevi para ninguém. Inspirei-me em você, e sabia que isso aqui não faria você me ver, e muito menos eu te reconhecer, então vou nos deixar esquecer pelas postagens que ainda vão aparecer. Hoje completo novamente, metade da minha idade.

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