Hipo(crê)sia - Você? Você deveria fazer terapia, meu bem

    Está tudo bem a sua cara amarrada, sei que você não tem a alma lavada, que está com a sujeira de todas as suas empreitadas escorrendo em sangue vivo na sua cara. Sei que o reflexo que enxerga no espelho te diz que a sua pele é a mais bela, mas só consigo enxergar todo o horror que você tenta negar. Mas não estou onde estava alguns anos atrás, sei que não adianta gritar aos quatro ventos, e nem sair correndo, estou pacientemente me afastando do pior que você me ofereceu. Não, não sou o exemplo da bondade, mas pelo menos enxergo toda a minha ruindade, e não espero nenhuma reação plausível da sua razão. Estamos em profundidades diferentes do mesmo oceano, não sou a superfície que enxerga o sol e bate na pedra, sou o fundo que abriga toda uma fertilidade de vida, um funcionamento próprio que não serve como teu solo, sou o início da sua perturbação, antes mesmo de você achar que sabe o que vai acontecer. Não é todo mundo que entendo o fluxo da maré, meu breve recuo é o tsunami que destrói todos os alicerces que você acha que criou, mas são apenas a fuga dos seus tormentos. Pelo menos encarei de frente todo o desaconchego que me faz gente, não fiquei idealizando a minha melhor face para moldar todo o entorno de acordo com o meu disfarce. Pode me odiar se quiser assim, mas não vou conseguir ser metade, muito menos esconder as minhas vaidades, vou ser o horror com todo o sabor, do mais doce fruto à podridão. Se quiser se fantasiar de doutor, poderoso e mais dono, melhor do que acha que eu consigo imaginar, saiba que não vim para ficar, já parti antes mesmo de você se quer me notar. Sigo como o mais ínfimo mosquito, livre de qualquer um dos seus arbítrios. E você? Você deveria fazer terapia, meu bem.

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