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Mostrando postagens de outubro, 2021

Pingo D'água - Entrevejo

Gastei um pouco de tempo Com tudo o que vejo Com essa marcação de desejo Acontece que entro num desespero De pessoas e de jeito Eu sei que é um grande defeito Mas essa melodia tem um peso Essa vida tão bela vira um fardo Porque é algo que me foi negado E quem teria esse direito de fato? Foi a pergunta que me fez mais marginalizado Com toda essa loucura ao avesso Achei uma sanidade sem preço Mas esse interesse é puro apreço Para desfazer a loucura em forma de prêmio Para achar que ganho em algum espaço Como se fosse minimizar o fardo Ou disfarçar essa prosperidade em excesso Fazer algum nexo Deveria ser pouco Deveria me manter mouco Devo nada e mais um pouco Deveria ter dado espaço Deveria ter feito parágrafo Mas eu comi sem nem ver o garfo E de tão rápido Engoli o percevejo que estava no prato Pisei no besouro com o sapato E essas mortes repousam no meu colo Só para manterem o meu foco No que vai além do vejo Que é um pouco mais do que percebo Isso que nem sei explicar direito Algo que...

Hipo(crê)sia - O caso

    Não queria dizer nada, mas parece que eu sou um grande caso desencontrado, desses que ninguém acha no dicionário. Já me falaram que eu deveria ser mais grato, honrar o que me ensinaram, mas achei que fazer melhor era honrar sem desmerecer, parece que não. Acontece que essa honra de ensinamento vem junto com dominação, com alguém que é mais, por isso que sabe ensinar, mas eu nunca consegui entender isso aí direito. Não sei, nunca achei que era menos, e achei que era para sempre fazer melhor, mas não tem jeito, é sempre meu o erro. Quando é que eu devo perguntar? Pode ser um problema usar nunca e sempre, mas eu não tenho disposição para tudo o que fazem nesse mundão. Isso é um tanto problema, porque deveria estar mais perdido, mas me dizem perdição de qualquer maneira, não pode se perder na cabeça, tem que ser no braço ou na mão, em alguma coisa que pode ser vista e desmerecida, ou algo do tipo. Quiseram que eu abaixasse a cabeça, mas eu já sabia olhar pro chão, não foi novi...

Autorretrato - Aperto

    E quando o coração aperta demais, como é que a gente faz? Quando parece que a vida não tem mais alternativa, quando os planos não são nada mais que despedidas, como a gente faz pra ficar são, pra ficar inteiro, pra entender que o mundo está em constante movimento, mas parece que é só a gente que não sabe se sustentar por inteiro. E quando falta até espaço para ficar quieto e repousar no relento, pra onde a gente vai?     Será que é só esperar essa bobeira passar, será que a alam sabe se desafogar? Já me falaram pra parar de pensar demais, que essa vida nunca deixa a gente em paz, mas eu nem tinha perguntado se estava fazendo algo errado, acho que o conselho foi bônus por ficar por aí com os pensamentos anuviados. Será que alguém vai algum dia me dizer que está tudo bem apenas ser?     Como que faz quando a gente não sabe mais pensar, quando a medida da racionalidade é uma dormência de intensa desesperança e crueldade, a gente dorme ou inventa coisa boa ...

Pingo D'água - Encontrei

Achei uma palavra Bobeira minha Não gostaram Disseram que devia ser comedida Que devia entrar na rima Ou ficar na minha Disseram que gostavam de mim Mas encontrei umas palavras assim E não deu para ignorar Até tentei desviar Então meio que me expulsaram dali Como se eu não fosse digna de ser Mas encontrei nessas palavras o meu jeito de ser E meio que não deu para esconder

Hipo(crÊ)sia - Prazer

    Oi, prazer. Aqui faço o exercício de não pensar direito antes de escrever. Não existem leituras e releituras, não existe muita polidez ou censura. É que já nasci com tensão na articulação da mandíbula, aí a boca nem abre muito mesmo, já dói só de mastigar a comida que estou comendo. Acredito que tem todo tipo de gente, e quando tem dicotomia é porque a gente escolhe ignorar todo o resto, pra ficar só com duas coisas das quais a gente quer falar. Não consigo acreditar muito fácil em gente, até porque se tem de todo o tipo, não é só um tipo que mente. Quando estava no caminho vi muita seta me apontando algum moinho, mas ninguém estava interessado sem sair de fininho. Só caminhei, sem tentar muito esconder, até mostrava que escondia o que não fazia questão de ninguém entender, mas assim não gostam, era pra você seguir a seta e não ser discreta. Ninguém entendeu a seta que eu segui, mas de qualquer maneira, estou aqui. Então oi, prazer, acho que não quero muito te conhecer.

Autorretrato - Encadeamento

    Não sei se é o céu do dia, se é essa conjunção de eras, se nada disso importa, ou se tudo é o que deveria ser, mas parece que a inquestionabilidade não consegue me conter. Quem é que disse que todo esse mundo é o que deveria ser? Quem foi que conseguiu acalmar todos os ânimos ao ponto de nos fazer ceder? Como é possível ter gente que simplesmente não se incomoda?     Fico pensando se houve uma era em que a boca podia reproduzir qualquer som que lhe fosse entendido, se qualquer toque que se estendia no espaço era um toque de alma, se havia algo tão diferente para chegarmos nesse extremo. Será que já tivemos algo tão bom que foi preciso caminhar para o exato oposto, e chegar na beira do precipício, onde a única opção é a queda. Espero realmente que estejamos a ponto de ver várias estruturas caírem.     Alguém me disse algo sobre o tempo histórico, e como a gente vive muito pouco para compreender o caminho de algumas mudanças. As vezes acho que não existir...

Pingo D'água - Quem foi?

Quem foi que se disse Iara? Mãe d'água Seria mulher ou escrava? Seria uma donzela ou uma beata? Quem foi que se disse Isaura? Alguém que queria vender história Ou alguém que queria viver a própria história? Seria a mulher a maior fraude da história? Uma mentira inventada por homem Que queria inventar culpa Que queria fazer domínio Que queria manter algum prejuízo Quem foi que se disse nada disso? Como se quisesse apelar para algum juízo Como se o domínio fosse permitir tal etnocídio Quem foi que se disse algo melhor no meio de tudo isso? Os mais podres ou os convertidos? Quem será que se importa com o que vai além do próprio umbigo? Aqueles preocupados com o que envolve Ou aqueles que querem expandir a própria posse? Quem foi que se disse inferior? Quem reconheceu a própria vastidão Ou quem encontrou a própria ruína sem qualquer previsão? Seria melhor dizer-se algo Ou permanecer algo sem alvo? Qual será a próxima identidade alvo de ataque? A que se reconhecer potência Ou a que recu...

Hipo(crê)sia - Contenha-se

    Contenha-se ser abestado sem freio no próprio rabo. Controle a sua vontade, seu desejo insano de ser gente, onde já se viu a massa ser contraproducente? Não é questão de domínio, imagina! É questão de arquétipo, de se encaixar onde disseram que você caberia, não é propício questionar as estruturas na era de aquário! Continue mantendo o mesmo, é só isso que você deveria estar fazendo, seguindo a roda, alimentando a estrutura. Enganou-te quem disse que romper era saber, esqueça isso! Deixe-me nisso que é o que eu domino. Diga-me teus planos, é isso que preciso para fazer valer o teu engano. Sei manter o dinheiro entrando, então não se preocupe, sei sondar a presa e capturar as maiores defesas, é só me dar tempo, pois a influência eu já tenho. Não é que faça coisas erradas, é que alguns limites podem ser ignorados, desde que se mantenha uma média de protocolos sendo seguidos, ninguém percebe o que não foi mantido. Mantenha essa sua boca fechada, é melhor do que tentar alguma ...

Autorretrato - A louca

    Ó lá! Lá vai a louca! Aquela lá, descabelada e com a boca solta. Aquela que não sabe se conter quando convém, aquela lá que fala demais. Sempre demais, até que chega uma hora que é de menos, perde toda a beleza e encanto, porque se mostra honesta demais, aí falta aquela falsidade plástica, aquela falta de opinião, aquela submissão.     Fui demais, e fui de menos. Mas sempre insuficiente para o que era necessário. Até que me perguntei quem estava ditando o que era necessário.     Ó! De novo aí! Querendo desdizer o que eu já disse, querendo achar que a sua opinião importa. Esse tipo de gente insana deveria ficar na beira da ladeira, esperando o empurrão quando fosse necessário algum descarte, afinal não tem mundo suficiente pra todo esse tipo de gente.     Disseram que eu não valia a pena, acharam-me arrogante demais, porque não recuei onde queriam, e quando recuei, foi que nem tsunami, para destruir qualquer coisa que estivesse no caminho. ...

Pingo D'água - Encurtei

Abreviei teu nome Como uma música no meio do holofote Te fiz poesia Mesmo sabendo que era só dor minha Imaginei finais mais poéticos Como se fosse reverter a noite para a luz do dia Mas esses foram só os acontecimentos da vida Nada que eu pudesse intervir Nada que a minha vontade fosse conseguir Então mudei um pouco o teu nome Só para deixar de passar fome Enfeitei umas baboseiras Só pra ficarem com cara de beleza E acabei encurtando a vida Escondendo partes do que sabia As coisas que ninguém ouvia Acabei diminuindo todo o eu Que por um instante Foi tudo o que sobreviveu

Hipo(crê)sia - Faz tempo

    Faz tempo que não me deixo escrever sobre aquele ódio da vida, mas não é por falta de sentimento, e nem por amortecimento, é apenas excesso  num ponto que não cabe mais em palavras. Não é só que o céu está desabando, ou que o mundo está definhando, é que precisei achar propósito na esperança. É... logo eu. Precisei disfarçar as aleatórias incoerências da vida para dizer que tudo tem um propósito, como se a vida fosse um jogo de maestria. Precisei olhar pra vida e buscar alguma beleza, alguma não, todas as belezas, pois esse tempo que estamos vivendo não poderia estar pior. É como se a ladeira tivesse acabado e só resta o deserto mesmo, um grande nada com tudo igual, todo dia. Passa dia e mais dia, e é só areia. Passa dia e mais dia, e é tempestade de areia, bem quando a gente achava que não dava para ficar pior. É muito calor e muito frio. E acho que nada disso é o pior, o mais assustador é ver gente parada, esperando a morte em alguma miragem imaculada, eu só penso: ...

Autorretrato - O dia em que relembrei da vida

    O dia estava cinza e chuvoso, naquela falta de claridade amortecedora, e mesmo assim, nessa suspensão de movimento externo ao abrigo, os passarinhos não deixaram de cantar. A cada momento era um novo som, um ser cantando mais alto a melodia que conseguia produzir com suas características. Talvez seja essa a descrição da singularidade da vida, um eterno cantar mais alto.     O som que era possível conectar aos ouvidos não falava tanto à mente, mas sim ao coração, dedicado observador daquele contexto. Como podem os sentimentos serem exauridos da própria infinidade de sensações? Como se o gosto amargo da bebida não descesse pelo mesmo lugar da doçura que a cada palavra compartilha.     Parece demais e de menos descrever, des-crever, tirar a crença do que se vê, mesmo que esse não seja o sentido. A cada segundo de mergulho infinito em si, um novo som aparecia a frente da vida, pois se sabia que ao fundo já estava o que não mais deveria ser, não como or...

Pingo D'água - Andei

Andei demais Sem mais Ninguém me deixou pra trás Porque fui eu quem não queria mais Caminhei na vida Pra buscar saída E só fiquei doída Porque não fui querida Andei pra trás E me julgaram Barrabás Como um louco a mais Com um olhar fulgaz Caminhei chorando E não me viram tropeçando Acharam que era o tamanco Ou algum solavanco Andei com foco E virei oco Pior que toco Tinha nem encosto Caminhei sem mapa Tentando achar o que faltava Dando umas risadas Mancando na calçada Andei demais De um jeito que não dá mais No tempo do que ficou pra trás Sem aprender nada demais