Autorretrato - O dia em que relembrei da vida
O dia estava cinza e chuvoso, naquela falta de claridade amortecedora, e mesmo assim, nessa suspensão de movimento externo ao abrigo, os passarinhos não deixaram de cantar. A cada momento era um novo som, um ser cantando mais alto a melodia que conseguia produzir com suas características. Talvez seja essa a descrição da singularidade da vida, um eterno cantar mais alto.
O som que era possível conectar aos ouvidos não falava tanto à mente, mas sim ao coração, dedicado observador daquele contexto. Como podem os sentimentos serem exauridos da própria infinidade de sensações? Como se o gosto amargo da bebida não descesse pelo mesmo lugar da doçura que a cada palavra compartilha.
Parece demais e de menos descrever, des-crever, tirar a crença do que se vê, mesmo que esse não seja o sentido. A cada segundo de mergulho infinito em si, um novo som aparecia a frente da vida, pois se sabia que ao fundo já estava o que não mais deveria ser, não como ordem, mas como destino das próprias escolhas. É um tristeza um tanto feliz escolher a própria vida.
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