Autorretrato - Encadeamento

    Não sei se é o céu do dia, se é essa conjunção de eras, se nada disso importa, ou se tudo é o que deveria ser, mas parece que a inquestionabilidade não consegue me conter. Quem é que disse que todo esse mundo é o que deveria ser? Quem foi que conseguiu acalmar todos os ânimos ao ponto de nos fazer ceder? Como é possível ter gente que simplesmente não se incomoda?
    Fico pensando se houve uma era em que a boca podia reproduzir qualquer som que lhe fosse entendido, se qualquer toque que se estendia no espaço era um toque de alma, se havia algo tão diferente para chegarmos nesse extremo. Será que já tivemos algo tão bom que foi preciso caminhar para o exato oposto, e chegar na beira do precipício, onde a única opção é a queda. Espero realmente que estejamos a ponto de ver várias estruturas caírem.
    Alguém me disse algo sobre o tempo histórico, e como a gente vive muito pouco para compreender o caminho de algumas mudanças. As vezes acho que não existir mais nenhuma mudança. Será que existe alguém disposto a abrir mão do benefício? Gostaria de um breve escape, de poder olhar para tudo isso sem margem, mas aí acho que não poderia mais estar aqui.
    Sabe, tiveram vários alguéns que me culparam por devaneio, como se eu não soubesse encadear muito bem as palavras, mas acho que todo o sentido que queriam não era o mesmo sentido que eu poderia fazer. Já me perguntaram sobre talento, se tem gente que já nasce sabendo, mas, por ora, eu só sei que tem gente que nasce indignada, de um tanto que não cabe na alma. É só esse o desencadeamento da vida. Será que hoje o céu abre, ou será que se indigna?

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