Hipo(crê)sia - Faz tempo
Faz tempo que não me deixo escrever sobre aquele ódio da vida, mas não é por falta de sentimento, e nem por amortecimento, é apenas excesso num ponto que não cabe mais em palavras. Não é só que o céu está desabando, ou que o mundo está definhando, é que precisei achar propósito na esperança. É... logo eu. Precisei disfarçar as aleatórias incoerências da vida para dizer que tudo tem um propósito, como se a vida fosse um jogo de maestria. Precisei olhar pra vida e buscar alguma beleza, alguma não, todas as belezas, pois esse tempo que estamos vivendo não poderia estar pior. É como se a ladeira tivesse acabado e só resta o deserto mesmo, um grande nada com tudo igual, todo dia. Passa dia e mais dia, e é só areia. Passa dia e mais dia, e é tempestade de areia, bem quando a gente achava que não dava para ficar pior. É muito calor e muito frio. E acho que nada disso é o pior, o mais assustador é ver gente parada, esperando a morte em alguma miragem imaculada, eu só penso: como pode? Depois de tanta cavalgada, tem gente que prefere se iludir a continuar vendo nada. Nada todo dia é assustador, pensar no futuro e imaginar nada também é assustador. A gente vivia num ritmo tão frenético, cheio de imagem, e, de repente, tudo meio que deu uma parada. Mas a gente a ainda respira. Tem gente ainda viva. Será que a gente sabe alguma coisa da vida? Faz tempo que não consigo mais escrever com raiva, porque tem muita gente usando ela como miragem, então eu preferi olhar para o nada.
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