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Mostrando postagens de agosto, 2020

Autorretrato - Gente

      Era o que cabia naquele pedaço de dia, uma fome sem medidas depois de horas de abstenção dos aspectos mundanos. Como podia passar tanto tempo nesses lugares rarefeitos dos pensamentos, e esquecer da vida que corre, com os ponteiros do relógio, e morre.     É muito autocentramento, taxaram-me  por um egoísmo extremo, e talvez seja bem verdade, não como um lugar de vaidade, mas com uma extrema necessidade de entender cada minúcia do meu comportamento. Pode ser muita obsessividade, mas não é por maldade.     Passo muito tempo dentro, questionando cada entendimento, e quando saio, não sei mais me comunicar com destreza, jogo todas as palavras sem nenhum filtro social, acusam-me de insensatez, loucura e falta de ternura, então me fecho outra vez, e viro um centro de polidez.     Passei a vida toda me medindo, calculando detalhes, revisando as partes, mas nunca fez sentido, sempre foi um esforço consciente da mente para me manter no...

Pingo D’água - Utopia

 Não sei se é azia  Ou poesia Mas me sobe na goela Todas as palavras dela Um vasto campo Sem perspectivas Sem acalanto Cheio de estivas Para contrabalancearam o seu peso E acalmar minhas mordidas Acordei rangendo os dentes Apertando a mente Agonizando nos pensamentos Transbordando o peito Quantas rimas Pergunto-me se precisaria Para fazer feio E comer seus defeitos Em um vasto horizonte Cheio de distância  Escorregam as palavras que enchem a mente E dominam a essência  Sendo pouco descente Constróem a utopia Não sei se é azia Ou verborragia Mas me esgarça no tempo  Me faz por inteiro

Hipo(crê)sia - Digníssimo

 Já nem sei mais o que te dizer, é tão absurdo que não consigo nem compreender. Queria que o presente fosse um mero segundo, mas não é o que estamos por ver. A cada dia sai de ti mais escrotice, como pode caber tanta insanidade em uma única figura?! Você é o arquétipo da maldade, e os que te seguem são a escória da sociedade. Você só age pensando na sua comodidade, então, manipular as sedentas necessidades, só servem para que seu ego continue à vontade. Onde foi que erraram? Foi no recorte de gênero e classe. É surreal, pisco os olhos diversas vezes e custo a acreditar que isso tudo é real. Onde está a liderança? Enchendo a pança de esperança, pois o marketing bem elaborado é o que lhes garante segurança. E os rabos presos. Não quero mais saber dessa vida, e acho que é assim que teremos que fazer para sobreviver, para enganar os dias até morrer. Chega a me dar dor nos dentes toda essa raiva, a mordida se atravessa e trava, de tanta angústia em imaginar que não vamos sair tão cedo d...

Autorretrato - Narrativa

           O céu estava azul e amarelo, yin e yang se encontrando para ver o por do sol, mas não consegui capturar a beleza dessa luz contra a sobra das árvores, perdi o tempo, demorei um momento, e quando vi, o dia já era noite. Denso, escuro e silencioso. O frio já estava chegando na porta.           Fechei a cortina, pois a luz de dentro brilhava mais forte do que a de fora, e me cobri para afugentar o tempo. O azul já tinha virado cinza. O cansaço do choro pesava nos olhos como a falta de sono. Escutava o som da respiração do cachorro, em seu sono quente e profundo.           O dia teve muito menos coisas do que esperava. Pensei em todos os meus amigos, aqueles especiais, com quem procurei conversar nesses tempos pandêmicos, e me dei conta de que eram bastante pessoas para quem se considera tão introvertida.           Olhei as cores fortes na capa do livro, e pensei em todos os c...

Pingo D’água - Validação

 Perdida Vagueio no pensamento De ensejo Fuga do meu medo Descoberta  Sem acalento Pois nem um beijo Coube no meu apreço Analisada Como um jumento Cobaia de manejo Para vender sem dedo  Outorgada Para o meu tormento Curada com despejo Para invalidar o preço Acabada Findando o momento Como um bocejo Sem começo

Hipo(crê)sia - Rolê

 É metade do mês, e a insegurança continua sendo o rolê da vez. A cada dia que passa, vem mais uma tristeza que me abala, e aprofunda a insanidade que é estar nesse mundo. Vejo uma massa podre que cobre a riqueza, e espalha toda essa doença egocêntrica para beneficiar seu lucro. Não sei como tem gente que engole essas besteiras e reproduz um sistema de crenças que mata as suas heranças. É basicamente isso, uma eterna castração, para tirar as forças e fazer adoecer os que produzem, os que geram lucros, só para manter os bolsos cheios de privilégios. Para se garantir. A falta na sua geladeira vale uma refeição cheia de riqueza, coberta de ostentação, para o rico que controla a nação. Se não puderem comprar o seu voto com dinheiro, vão comprar com pão, ou melhor, com a falta da sua refeição. A realidade é que não devemos, pagamos cada centavo por essa existência, e um pouco mais, mas sempre vai ter alguém que consegue contrabandear o veneno que mata o coelho, então vamos implorar pelo...

Autorretrato - Desconexão

             De tudo o que a gente acha no mundo, acho que sempre quis ter uma intensa proximidade, mas sempre senti uma distância inadequada. Era sempre um descompasso com a vida, quando eu achava que entendia, já havia algo que não me cabia.             Pode ser daí os tropeços, um descompasso no passo que fica tentando ser por demasiado apressado, levando a um descaso nenhum pouco louvável. Acho o tempo uma noção engraçada, parece uma história quebrada, que a gente não entende se não ficar ajustando as lentes.             Senti a brisa gelada me cortando pescoço à dentro, e, entre os pingos de chuva que caíam, vi um pedaço do céu, recortado pelas nuvens, brilhando com um pedaço de sol que não cabia naquele momento. Parecia a página seguinte da revista. Fiquei um pouco extasiada e me atravessei na narrativa.             Penso que todo esse meu desacerto com o te...

Pingo D'água - Ideologia dos mesmos

Existe algo dentro de mim Que grita Que esgota a vida sem fim Que me martiriza Existe algo que não entendem bem Que ignoram Que me impede de ir além Que não consideram Existe algo que implode Que me aperta o peito Que ninguém consome Que não tem respeito Existe algo que não consideram Que me faz  menos Que me esconderam Para que eu me tornasse menos 

Hipo(crê)sia - Ideologia do efêmero

 Qual a dificuldade de sair dessa sua caixa, de entender que não seremos todos os mesmos, será que dói tanto entender que você não é referência? Nunca foi. Não consigo conter tudo o que há em mim, e por que deveria?! Quero que você engula os seus conceitos, pois eu já estrangulei os seus defeitos, e, disso tudo, eu que sou louco, agressivo e sem sentido, mas você que começou a briga. Não entendo essa noção de adequação que vocês acham ter. Já nem sei mais o que dizer. Cansa ficar na margem, cansa ser invalidado, cansa nunca ser visto, cansa não ser nem considerado. Mas eu não posso falar nada disso, pois você não me enxerga em nada disso. Cansei de gastar as minhas palavras, de usar todo esse falso bom senso, pois só é bom quando lhe conforta os beiços. Cansei de ser um defeito, pois nunca me encaixarei nos seus conceitos. Só fico pensando que não sei, e que vocês sabem tanto de tudo, não dá para entender essa hipocrisia! Vocês só se interessam em nos tirar a vida, em sugar nossas ...

Autorretrato - De tudo, meu mundo

      Sabe, de tudo, eu esperava ajudar, realmente, construir algo melhor, achei que seria possível. Não esperava tanto caos e confusão, por uma simples ilusão. Não sei mais disfarçar, medir as palavras e enganar, não consigo mais me controlar. Acho que é culpa de ficar muito tempo na minha cabeça.     Não consigo nem pedir desculpas por ter mudado a narrativa, só cabe à mim essa ousadia. As pessoas tem muita falta de preparo para lidarem com seus próprios calos. O que foi que me aconteceu Barba Azul? Achei que deixar a inocência me faria pertencer ao mundo, mas só vejo que não existe realidade em nenhuma mesa.     Sinto que fico me afogando eternamente, de maneira consciente, pois ninguém vive a vida, ela é muito doída. Será que tenho algum juízo na minha mente? Deixo a vida correr que nem nascente, e sinto pressa em me perder na corrente, mas todos preferem ficar dementes, dormentes até que lhe caiam os dentes.     Quando escrevo besteiras ...

Hipo(crê)sia - Quem?

      Você não sabe quem é, por isso coloquei todas as imagens na mesa, para que engula as minhas referências. Você não tem noção, e isso não tem perdão, não tem porquê em ser como você. Cresça o cabelo, ou deixe viver, mas tenha em mente que o seu desejo não há de ser. Nem o que te espera, nem a megera vão conseguir compreender. Não é falta de sorte que você tem, é um desejo de morte, pois neste mundo só lhe cabe o nome, e nem é como deveria ser. É uma tristeza essa sua falta de pureza, vai lhe custar a destreza de permanecer no lugar, pois não há estrutura para te sustentar. Mas veja pelo lado da  beleza, não foi a morte quem veio te salvar. Isso ainda é um talvez, vale relembrar, mas para quem vive a vida só esperando o dia terminar, recostar a cabeça no caixão não fará muita diferença.

Nó em pingo d'água - Cloroquina

Foi poesia Calmaria Tudo aquilo que ia O que preferia Poucas palavras As histórias marcadas Como estradas Desavisadas Sorridente O superintendente Com sangue no dente E horrores na mente Pecado Aquela falta de cuidado Correndo do soldado Camuflado O medo contundente Concomitante Guardado na estante Longe do comandante Foi poesia A mentira A saída Para permanecer viva

Autorretrato - Flor

    Era uma beldade, era ela, a mais bela vaidade, dentre todas as camélias. Em pequenos botões, suas angústias floriram para todo o mundo ver. Arrancaram  suas mudas para tentar reproduzir tal beleza, e abandonaram a bela flor em seu relento. Esqueceram de sua existência, deixaram de vê-la. Ela deixou de ser lembrada.     Sozinha, suas angústias cresceram, como um grito de desespero, seus brotos triplicaram. Os desavisados que por ali passaram, acharam linda essa tristeza que não conseguiam ver. Consideraram prosperidade, toda aquela insanidade. Deixaram-na. Só apareciam visitas para colher os frutos da sua solidão.     Quando os primeiros retornaram, depois de intervalos cada vez mais espaçados, ficaram espantados. A bela flor estava murcha, com uma feição esdrúxula. Sua cor não era mais a mesma. As lembranças deixaram de coincidir com a realidade. Ficaram sem entender o que acontecera, e não acharam que era destreza essa adaptação de beleza.   ...