Autorretrato - Flor
Era uma beldade, era ela, a mais bela vaidade, dentre todas as camélias. Em pequenos botões, suas angústias floriram para todo o mundo ver. Arrancaram suas mudas para tentar reproduzir tal beleza, e abandonaram a bela flor em seu relento. Esqueceram de sua existência, deixaram de vê-la. Ela deixou de ser lembrada.
Sozinha, suas angústias cresceram, como um grito de desespero, seus brotos triplicaram. Os desavisados que por ali passaram, acharam linda essa tristeza que não conseguiam ver. Consideraram prosperidade, toda aquela insanidade. Deixaram-na. Só apareciam visitas para colher os frutos da sua solidão.
Quando os primeiros retornaram, depois de intervalos cada vez mais espaçados, ficaram espantados. A bela flor estava murcha, com uma feição esdrúxula. Sua cor não era mais a mesma. As lembranças deixaram de coincidir com a realidade. Ficaram sem entender o que acontecera, e não acharam que era destreza essa adaptação de beleza.
A flor estava a sobreviver, sobre a vida e sobre o viver, com todas as feridas e com todo seu crescer. Ela recolheu seus brotos, então ninguém mais quis saber, e, pela primeira vez, suas angustias silenciaram nessa solidão. Ela criou algumas distâncias para poucos permanecerem perto. Pareceu loucura para quem só enxergava a armadura.
Agora é isso, um compromisso. Sua escolha, com a feição ainda caolha. Agora é realidade, uma parte de verdade, e outra de falsidade. Para os que querem ver, e parra os que querem conhecer.
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