Autorretrato - Gente

     Era o que cabia naquele pedaço de dia, uma fome sem medidas depois de horas de abstenção dos aspectos mundanos. Como podia passar tanto tempo nesses lugares rarefeitos dos pensamentos, e esquecer da vida que corre, com os ponteiros do relógio, e morre.

    É muito autocentramento, taxaram-me  por um egoísmo extremo, e talvez seja bem verdade, não como um lugar de vaidade, mas com uma extrema necessidade de entender cada minúcia do meu comportamento. Pode ser muita obsessividade, mas não é por maldade.

    Passo muito tempo dentro, questionando cada entendimento, e quando saio, não sei mais me comunicar com destreza, jogo todas as palavras sem nenhum filtro social, acusam-me de insensatez, loucura e falta de ternura, então me fecho outra vez, e viro um centro de polidez.

    Passei a vida toda me medindo, calculando detalhes, revisando as partes, mas nunca fez sentido, sempre foi um esforço consciente da mente para me manter no mínimo das aparências. Não tinha nenhuma referência para entender a minha mente, conturbada mente. Achava que nem era gente.

    Descobri quem mente, mas continuam a me apontar como indecente. Quem sabe, um dia, seremos conscientes.

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