Autorretrato - Narrativa
O céu estava azul e amarelo, yin e yang se encontrando para ver o por do sol, mas não consegui capturar a beleza dessa luz contra a sobra das árvores, perdi o tempo, demorei um momento, e quando vi, o dia já era noite. Denso, escuro e silencioso. O frio já estava chegando na porta.
Fechei a cortina, pois a luz de dentro brilhava mais forte do que a de fora, e me cobri para afugentar o tempo. O azul já tinha virado cinza. O cansaço do choro pesava nos olhos como a falta de sono. Escutava o som da respiração do cachorro, em seu sono quente e profundo.
O dia teve muito menos coisas do que esperava. Pensei em todos os meus amigos, aqueles especiais, com quem procurei conversar nesses tempos pandêmicos, e me dei conta de que eram bastante pessoas para quem se considera tão introvertida.
Olhei as cores fortes na capa do livro, e pensei em todos os contrastes que tenho. Já estou sofrendo de angústia do tempo, ou da falta dele, porque quando paro, só consigo ficar extasiado. Troquei os artigos para o que me era mais confortável, e ninguém percebeu. Liberdade poética ou artística.
Isso tudo foi só uma descrição, narrativa, um pedaço de vida do qual me desfaço todo dia. Tenho um tanto de teimosia que ninguém entende, mas que vem depois de muita reflexão. Passo um tempo absurdo questionando até o corrimão, e quando decido, não há mais o que segure a manifestação. Não entendem porque o processo vem de dentro.
Quando o narrador se narra, acontece uma falha no tempo, e surge dela uma prosa sem contexto, pois tem um nexo que só existiu naquele momento. Mas é uma estranha beleza se deixar navegar nos entraves do tempo.
Comentários
Postar um comentário