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Mostrando postagens de novembro, 2012

Hipo(crê)sia - As bobices sociais

Foi uma bobeira, eu sei; não era aquilo, eu sei; mas, existe tanta bobeira que não consigo deixar de esbarrar com elas. E, de todas, as piadas são as mais bobeiras, a piada machista, a piada homofóbica, a piada excludente, a piada moralista, a piada ética, a piada defensiva, a piada auto degenerativa, a piada julgadora... Pobre piada! Ela queria sorrisos e não repreensões! Pobre piada! Para de pensar menina! Mas eu preciso admitir que fiquei presa nessas bobices, elas se impregnaram em mim e já não consigo desencarná-las, eu não posso olhar, pois já começo a me achar uma bobeira, das pontas do cabelo até a feira, uma grande bobeira! E nessa bobice que sou, eu rio e gargalho do que me mantém no alto, correndo aos saltos dos meus abismos e abraçando temorizada os meus medos bobos e culposos. Pulando daqui pra lá fiquei assim, me bobeando, com os dias e as horas passando, fiquei por aí de bobeira, me achando uma escudeira, me aterrorizando comigo mesma. E quantas vezes eu não me sen...

Autorretrato - Capítulo Vinte e Quatro - A transparência da melodia

         Era exatamente tudo que não era ela. Era a agressividade que ressaltava as suas garras, instintivamente prontas para serem usadas, e visivelmente destacadas. Estava posta a mentira que ela era, o traje aceitável que travestia para tentar se impor para si mesma. Era a verdadeira falsidade da sobrevivência que a pressão da caixa torácica fazia em seu peito quando algo ali tentava palpitar sensibilização.         Foram as coisas que ela não conseguiu fazer, as palavras que não externalizou, e a quietude que não conseguiu ter. Isoladamente calada, já sabia que não funcionava, então, inerentemente presente, balbuciando uma coisa ou outra para ser notada, já se tornara suficiente por muito tempo.         A mente ficava inquieta enquanto os olhos se embaçavam em pressões convencionativas; já não sabia até que ponto ia, pois tudo parecia uma infinita reta, cuja qual ela vivenciava as curv...

Hipo(crê)sia - Ser ou esquecer

Sejamos então a sarna na pele, o grotesco que borbulha em desesperos, causemos a angústia alheia e vivamos disso, de escutar uma angústia que nos garante um ensurdecimento de convicções, de uma estúpida certeza que temos que entregar ao mundo a cada segundo que respiramos, por estarmos vivendo e por estarmos morrendo. Vamos dilacerar tudo lentamente, rir das nossas indiferenças para não sentirmos a nossa hipocrisia, para não vermos o nosso riso amarelo baforar uma podridão que as sobrancelhas taciturnas não conseguem disfarçar. Fingiremos que existem laços, que sabemos por que não esquecemos, que entendemos a nossa humanidade contorcida nas suas incertezas que proferem certezas cegas pela nossa variável valoração impregnada nos desejos de visibilidade e aceitação. Sejamos então estupidamente bruscos, pois assim afastaremos os sentimentos corrosivos e nos destruiremos por conta própria em nossos desconfiados afastamentos.

Hipo(crê)sia - Auto-lixo

E o que você faz quando não sabe?! É, eu não sei, mas é disso que gostam, eu me sinto um lixo, e é assim que gostam, me olho e vejo uma bela bosta, e é por isso que gostam, fico me odiando e me culpando na dúvida de ser estúpida, e é isso que mais adoram, te torturar numa pergunta que você nem tinha que estar se fazendo, se achando no direito de te tratar que nem um degrau, e você que ouse tentar reclamar a algum entendimento sobre o que está acontecendo, é para ser pisada que você foi chamada, pra ter uma cara de tapada que te dão uma mesada, e não, não precisa ser em dinheiro, mero engano que esse capitalismo te fez pensar, são tão bondosos os que te fazem ter consciência da sua burrice, essa é sua recompensa, e você que não reclame, um espelho sucateado com seu brilho dilacerado, te esfregam na cara que só assim se é humilde, sendo menos, e não valorizando o outro, e você não tem que ficar sabendo, tem que engolir o que está te corroendo, tem que colocar isso num lugar que não vejam...

Autorretrato - Como se já não fosse uma narrativa... Capítulo Vinte e Três - O arregalo do beijo

         O mundo me abisma numa vertigem que não se move, numa certeza que me abala a gentileza. Permanecer está na vida, está na ida. A vida me abisma na sua carnificina, pois sabem o que me pedem? Que eu não fique, que eu esteja sempre saindo, que o conforto não me acolha, que eu vá e me foda. É, quanta poeticidade na exigência de uma autoridade. Por que me ensinaram o que ser se não me deixam escolher?! Pois é preciso minha cara, pra não ficar barato o se fode. Então retornemos à minha ode, cantarole querubim, só estou ajeitando as suas asas.         Cante comigo a minha melodia, pois eu quero que assim seja! As minhas rugas amargas já não me deixam ter a voz suave numa doçura que aos meus olhos já não cabem. Só cabe a íris, a retina e a pupila meu doce pupilo que aprende comigo.         Deixe essa premissa de ser integridade, te corto o umbigo seu enxerido! Mova o que me move, pois eu ...

Autorretrato - Capítulo Vinte e Dois - Isolamentos em série

         "Prendemo-nos as palavras, pois elas comunicam; prendemo-nos as pessoas, pois elas se comunicam; e, prendemo-nos as nossas estabilidades e aos nossos modos, pois eles nos comunicam no mundo. Mas, às vezes, parecemos querer saber tanto a origem que nos esquecemos de nos permitir uma disponibilização para uma sensibilização presente".         Pensando isso, nessa maneira ocidentalmente lógica talvez, ela encontrou as perguntas dos seus medos em afirmações duvidosas. E se ela vivesse demais no seu mundo de tanto tentar compreender as singularidades dos momentos?! Será que adiantava?! Ainda era ela tentando. Mas ela realmente acreditava em um egoísmo coletivo compreensivo. Sempre em sua cabeça um egoísmo, afinal era ela querendo, ela se disponibilizando, ela pensando. Mas isso não significava incompreensões julgadoras.         E por que tanto ela?! Não se tinha outros olhos que não es...