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Mostrando postagens de dezembro, 2021

Pingo D'água - Preparação

Agora é hora De preparação De escolta De revolta De toda a vida que se põe a mostra É o que não esperam Desses ciclos que não se encerram Mas que seja A verdade é dita Ou troveja E você que veja Qualquer problema Pode ser tua tristeza Mas que seja Não se importam Os que vem e voltam Apenas seguem travessia E a conta fica por tua comida De quem fica De quem não escolhe a ida Poupe o golpe de sorte Amanhã serei a bruxa da morte

Hipo(crê)sia - O Último

    Talvez seja esse, o último, o que não esperam, o absurdo, talvez fique aqui você, moribundo. Era paz e treva a cada segundo, mas você quem fez a tempestade no copo da água que já estava apodrecida. Como é que podia? Será que a água apodrece com a vida? Pode ser hoje que eu desisto e nunca mais volto a esse convívio, não garanto que isso vá ser um alívio, pois normalmente é muita pedra para pouco caminho. Pode ser que eu desista, de fazer do meu jeito, de viver a vida, pode ser que eu fique em reclusão, esperando o próximo céu que vai se desfazer em vão. Pode ser que pareça poesia, mas cada vez mais é minha sina, levar bicuda e ficar com a cara miúda. Pode ser que não tenha nada a ver, com os olhos ou com o tempo do relógio, que o meu sentido fique em haver com isso que acha que sirvo. Pode ser que nunca mais e sempre tenham mais encontros do que eu e você.

Autorretrato - Vontade

    A vontade não era ler, era arrepender, era fazer toda aquela margem topográfica deixar de ser. Mais uma vez, era época de terreno asfaltado, de concreto no meio do mato, era chegado o momento das incoerências. Sempre penso, quem é que sustenta essa potência?     A destruição em massa segue solta, permitindo que as bruxas corram loucas, quem será que perde a razão, quem reclama ou quem dá a mão? Nunca foi sabido se esse seria mesmo o meu precipício, mas acharam que fazia parte do convívio.     Mesmo saindo, não fui eu quem fiz o sentido, pois nunca é tarde para eu virar abrigo. Queria apenas algo que não fosse um vestido. Devia ser clara, mas quem me fez deixou-me farta. É prepotência, preparar a arrogância e servir na mesa. É o prato que não comeria com certeza.     Ao fim das contas, veio para mim a despesa, e eu que me veja como parte da sentença. Quem diria, que a fala mal falada, a torta e atravessada, seria dessas, tão boa com as palavras...

Pingo D'água - Assim

Perdão se foi assim Se esqueci quem era parte de mim Disseram-me louca Fizeram-me mouca Como se nada de errado houvesse Em matar alguém assim Perdão Mas a beleza nunca coube Sempre vi esse horror que te esconde Só não mostro mais a minha preocupação Pois foi assim que cheguei nessa prisão Iludi a sensatez Cobrei hora extra do que você me fez E perdi todas as apostas Como se a rima fosse agora a resposta Escrevi sem acreditar em mim Pensei em mais do que desistir E Como último fôlego Escrevi novamente para mim Perdão se para você foi assim Uma ofensa Uma perda Mas dessa vez Precisava me encontrar em mim

Hipo(crê)sia - Combinado

    Vamos combinar aqui? Eu me faço de gato e você de sapato? Eu finjo a loucura e você a moldura? Vamos brincar aqui, de complementar a própria fissura, de ser indecência, de encher a moral de saliência só para ver qual é a primeira demência que manda no mundo atual? Tenho toda a certeza, de que erro a vírgula e o trema, mas quem continua no domínio não faz nem noção da nossa estatura. Estamos aqui afinal para quê? Seria a pergunta de ouro, pois separa os loucos dos poucos, os poucos privilegiados o suficiente para não acharem necessário nenhum tipo de pergunta. Vamos brincar de mudança? Eu sou o frete e você a herança? A gente muda pra capital, a gente vira dono e nada mal, quem sabe a gente dá no pau. Vamos fazer um combinado? A gente aperta as mãos e finge perdão, mas logo mais informaremos ao capitão quem é que deve perder a casa no leilão. Combinando assim, o complemento que falta na renda é acabar com esse povo mulambento que acha que merece dinheiro. Vamos fazer assim,...

Autorretrato - Destino

    O que será essa imensidão que me afoga em desesperança? Parece que quando o sol acalenta o dia com o seu brilho uma escuridão continua a me invadir, como se eu não fosse capaz de virar luz, de me fundir nessas condições de calor e vida. Seria a morte me chamando para perto, ou apenas dizendo para tudo o que eu não presto?     Quando penso no tempo atrás, parece muito, parece pouco, parece que não tenho mais a noção de tudo o que sou e fui, para continuar sendo. Olharam-me de canto de olho, como se essa minha busca fosse um grito de desespero, mas, pela primeira vez, encontrava-me tranquila repousando à sombra da árvore, acolhida pelo barulho do vento. Será este o meu elemento?     Quando pediram que eu não mudasse, ou que ficasse - perdão a confusão, mas é que parecia a mesma coisa na época -, fiquei incrédula, achei que não era possível uma ousadia dessas. Agora me encontro aqui, sentindo os mesmos nós apertando o pescoço. Como foi que voltei a parar a...

Pingo D'água - Apelido

É apelido ou é nome sortido Isso aí que pinta no umbigo É margem ou alinhamento Tudo isso que considera pensamento É pra aparecer ou esconder Todo esse cerne de medo É devido ou deve para alguém Essa justificativa de ser É vontade ou cobrança Que mostre as sua alianças É desejo ou é medo Essa mão que não bate no peito É cobrança ou é direito Sua livre expressão de gênero É projeção ou ilusão Isso tudo pelo qual te dizem não Mas vem cá É apelido ou só sugerido?

Hipo(crê)sia - Tava na minha

    Olha, só vim dizer que eu tava lá na minha. Não pedi nada pra ninguém, e nem sequer me pronunciei. Só que toda essa besteira da vida veio mesmo assim. Já to falando isso que é pra parar de querer enfiar a culpa em mim. Eu normalmente penso que não entendo esse tipo de gente, mas com sinceridade aqui, a questão é que nem quero entender mesmo (provavelmente porque já entendo e vou acabar falando isso aqui). Não sei se existe um limite entre julgar e segregar, parece que são conceitos bem casados, mas isso pode ser feito com discernimento ou com valoração pessoal. Acaba que é quase tudo igual. Vai passar pelos valores de alguém em algum momento, e tudo bem. A diferença está aqui: você pode olhar para isso, e nada mais, ou você pode olhar a partir disso. Pode até parecer uma baboseira sutil de linguagem, mas acaba que não é nada sutil. Queria saber qual maquinário que se alimenta dessas noções turvas, como fica o funcionamento desse ser que escolhe o próprio privilégio para a ...