Autorretrato - Murchei

    Estava caminhando com um constante sentimento de fracasso, como se fosse possível falhar em todas as instâncias da vida, pensando que tudo poderia simplesmente congelar naquele instante que nada mais importaria. Importei essa ideia de algum lugar que queria pausar a vida, que achava sua inconstância alguma desmedida incabível nessa concepção da vida.
    Falhei mais uma vez, aquele retorno inesperado dos fatos dividiram a mente entre a falta de esperança e a criação de uma ilusão em que todo o conceito de mundo inexistisse, como uma loucura disfarçada de excesso de sanidade, quando na verdade é apenas um acumulo de tristezas e realidade. Qual será o próximo passo se nenhuma direção parece conter esse desespero com algum amparo? Nem que seja relativo, nem que seja passageiro, não existe esse desejo.
    Então, não sei bem quando, tudo foi ficando tão pesado que murchei, esvaziei-me de mim mesma, e acabei esquecendo de falhar, abandonei esse conceito, pois já não aguentava mais nem me carregar. Foi depois desse momento que as coisas pararam de ter esse sentimento, toda a inconstância fez sentido nessa vida mundana. O fracasso falhou em permanecer.
    Primeiro pareceu uma diminuição cruel de tudo o que se é, e em algum momento foi isso, mas o inesperado é que existia algo além disso, e ninguém previu, ninguém quis contar, pois continuaram na tentativa de sucesso. Eu, que me achava tão fracassada, olhei para um mundo frustrado com as próprias escolhas. Quando foi que tudo tão drasticamente mudou?
    Olhar tão de perto e caminhar por essa tortura é julgado a maior das loucuras, mas quem não persistiu continuou no caminho das facilidades encontrou apenas o que era fácil, leve, e ficou faltando peso para resistir. Logo eu, tão pra baixo, tornei-me raíz.

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