Autorretrato - Capítulo Trinta e Seis - Permanência oscilante

        O desespero lhe amassava a cabeça quando as coisas não lhe deixavam ir. Ela só queria se livrar do que lhe pregava ataques de pânico, daquela monstruosidade desfigurada que, enlouquecidamente, desaparecia para deixar a felicidade lhe corroer as têmporas e a leveza escorrer ossos abaixo, para então, afundá-la em sua insanidade e deixá-la colidir com os problemas que os outros colocavam para lhe aterrorizar as verdades e comodidades.

        Disparavam-se surtos que incendiavam tudo o que podia dizer algo sóbrio em si e de si, tudo que podia levá-la para longe, tudo o que podia deixá-la longe. A cada surto uma parte de si aguentava menos, uma parte de si a deixava para ser menos. A cada descida menos dela subia, mais o nada deixava de existir, puxando tudo o que podia se agarrar a ela para que sua sanidade não a carregasse, que todo o seu peso tombasse e tudo o que era desmoronasse, sem que ruínas sobrassem.

        A insanidade pipocava nos mesmos segundos em que se tornava invisível, pairando em sua sombra sem que ela pudesse fugir. A cada loucura sua cara ficava mais marcada, suas ideias ficavam mais lesadas, sua pele mais esfolada. Cada marca exigia mais tempo e menos motivos, mais intensidade e menos amizade.

        Ela não queria mais subir ou descer, só queria ficar e tentar permanecer. E quanto mais tempo, mais se esvaecia, mais dela ela temia, e tremia, tentando se sacudir desses desesperos pelos outros acoplados. Sem desejo e sem vontade disso tudo, queria saber quais forças não lhe deixavam.

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