Autorretrato - Capítulo Vinte e Nove - Os pedidos lacrimejantes

        Ela só via olhos pedintes, implorando por um segredo, por uma palavra que fosse dentro dos seus modos, por um desejo, lacrimejando para tentar desembaçar o que poderia estar impedindo-os de ver aquilo que estava tão longinquamente na sua frente.

        Tão próxima do toque ela estava intocavelmente sumida de si. Ela ficou tão grande por dentro e tão pequena por fora que não conseguia se achar nessas divergências. Escutou as palavras mais doces a violentarem incansavelmente, viu o que não conseguia manter perto.

        Seus pulsos não paravam de se deslocar de tão forte que ela se prendeu em seus medos e frustrações. Atada em suas inseguranças não conseguia tocar esses olhares pedintes, não conseguia dar algo em troca, sentia-se um reles troco, um pouco de algo que se tornara completamente diferente do menos que ela estava.

        Permanecendo ilhada, ela só conseguia passar pelos mesmos lugares, dar voltas nas mesmas confusões e esbarrar na mesma carcaça que fizera, tão pequena, do tamanho que tudo começou, nos moldes que tudo tinha, do jeito que parecia e aparecia.

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