Autorretrato - Despedida

    Coloquei aquela música favorita, de um tempo atrás, o suficiente para sentir nostalgia, para pensar que a vida não volta atrás, ela perde a mochila e continua como se não guardasse nada do que realmente queria. Talvez eu saiba ser exatamente como a vida, quando lembro das várias versões de mim mesma que deixei por aí, como se não importasse cada despedida.

    Acho que aprendi melhor a dizer adeus, a deixar ir um pouco mais rápido, ou foi só eu que saí mais rápido. Sinto as duas coisas, como se conseguisse saber muito antes que aquilo já não vai ser suficiente, e aí só deixo o tempo acontecer. Sinto que estou em algum lugar secreto das emoções, pois sei que em algum momento aquilo tudo vai se desfazer.

    Pode ser que eu tenha perdido muito tempo, então preciso compensar um pouco. Fico só a espera do momento certo. Chegou um ponto em que só acho engraçado, disseram-se estar no tempo errado, desperdiçando as possibilidades da vida, mas eu achei um ferida, então precisei parar. Não que vá fazer algum sentido, mas eu mesma já cuidei de tudo com o juízo.

    Tropeçando e um pouco tonta ainda, mudei o tom da narrativa, como se alguém conseguisse ouvir o que a minha cabeça tem a inventar. Olhei em volta e não me reconheci mais, é um velho problema que tenho, repetidamente ele volta e me assombra, eu desreconheço. Teve um tempo em que isso me perturbaria, mas agora a despedida se faz sem a necessidade da partida.

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