Autorretrato - Castelo

    Me peguei esse ano, misturando meus medos, criando uma batalha comigo mesmo, desafiando até o sorriso escondido nos beiços. Duvidei da minha poesia e de tudo o que eu já construí nessa vida. Achei que de nada valia. Desdobrei toda a minha vida e joguei na armadilha; quem é que pegaria?

    E pegaram. Viram-me no exato ato de me destruir e reconhecer. Quem é que poderia prever? Não sei se sou um desastre ou um pedaço de sorte, só sei que já aprendi o que fazer com a morte, e isso não é sorte!

    Fui extremamente arrogante, e acho que é por isso que voltei. Agradecia o meu caminho mas queria esquecer de tudo o que já me fiz fazer. Não é possível excluir a porta de entrada que te fez chegar nessa vida. Então meu ego me fez cair de joelhos, mais uma vez, mas agora tirei meu tempo para ficar nessa lucidez.

    Esse espaço que achei é todo o desconforto que me neguei, mas que jamais deixei. Não olhei para tudo de uma vez, primeiro respirei fundo. Aprendi a deixar entrar o que precisava para continuar. Apenas o suficiente.

    Entrei no jogo dessa vez, com um pouco mais de leveza e intenção. Nada foi em vão. É engraçado, porque quando começo já me digo que não é belo, bem sincero. Achei que dispersei a multidão, ou só não me importei em ficar no chão.

    Deixei as despesas na contramão da solidão, só para ver se algum dia me recupero da queda do próprio ensejo. Amorteci no relento, mas antes aprendi a me deitar direito. Agora não sei se rastejo ou se passo o rastelo, mas sei que não preciso construir um castelo.

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