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Mostrando postagens de junho, 2014

Hipo(crê)sia - Lotações

O céu está muito cheio, o mar está muito cheio, as ruas estão muito cheias, as lojas estão muito cheias. Tudo está tão cheio de um jeito que me dá vertigem, de falas que me esvaziam nesta lotação. Desse excesso de coisas que nos socamos, as pessoas estão falando demais, para se esvaziar de certo, se esvaziar de certos pesos que não lhes cabem, esbofeteiam opiniões para fora de si que te espancam todo, sem que você tenha perguntado, sem que tenha autorizado. É a sua atitude, é o seu corte de cabelo, é aquela bosta de espelho. Existem muitas coisas das quais não quero saber, e nessas verborragias que as pessoas insistem em derramar, existem muitas coisas que eu prefiro esconder, pois não te interessa. Estamos cheios de selos para classificarmos as suas incompetências, estamos cheios de medos para rotularmos as suas camisetas. E, de tantas asneiras que correm pelos nossos ouvidos, estamos escutando pouco, com menos cuidado, com menos delicadeza às preciosidades que podem nos vir. Amortece...

Nó em pingo d'água - Exposição

Não vou fazer da minha casa uma vitrine Não quero posar de certeza Seus sais de banho não me tiram a imundice dessa humanidade Não quero estampas delicadas Não faço questão de usar tons amenizados Não me importo com esse padrão de colorido Não faço questão desses sorrisos Desse brinco no umbigo Pergunto-me o que esses brilhos fazem por você Que parte de ti isso cobre Não vou vestir as cores que você gosta Não me importo com esses moldes Faço de mim certas mortes Faço questão de ter alguns cortes Cubro-me de lotes Pois não vou ficar nessa vitrine Prefiro ser este abismo Do que fazer de mim essa superficialidade Do que fingir essa ingenuidade Prefiro comer a minha mortalidade Do que deixar seu veneno me corroer

Autorretrato - Capítulo Quarenta - O novo ao ano que chega

         Está inaugurado o novo ano com o primeiro pânico, aquele desespero repentino que te tira do mundo, faz pensar que talvez te colocaram neste mundo por engano, que foi um infortúnio de um acaso mal calculado.          Às vezes ela olhava para o céu e se sentia um nada. Imaginava que, no meio daquele céu azul, havia furos que outros seres fizeram, que esse azul é um papel de embrulho, e as estrelas são seus furos pelos quais passam um pouco de luz, pois lá fora eles estão observando as formiguinhas do mundo que criaram enquanto tomam um vinho tinto em um coquetel de aparências.         Ela se sentia pequena, esperava uma das estrelas sumir repentinamente para dizer que era o olho amendoado de um espiãozinho hipocritamente medíocre, pensando que pode te esmagar com um dedo a qualquer instante. Um nada.         Às vezes achava que perdia as coisas b...