Hipo(crê)sia - Lotações

O céu está muito cheio, o mar está muito cheio, as ruas estão muito cheias, as lojas estão muito cheias. Tudo está tão cheio de um jeito que me dá vertigem, de falas que me esvaziam nesta lotação. Desse excesso de coisas que nos socamos, as pessoas estão falando demais, para se esvaziar de certo, se esvaziar de certos pesos que não lhes cabem, esbofeteiam opiniões para fora de si que te espancam todo, sem que você tenha perguntado, sem que tenha autorizado. É a sua atitude, é o seu corte de cabelo, é aquela bosta de espelho. Existem muitas coisas das quais não quero saber, e nessas verborragias que as pessoas insistem em derramar, existem muitas coisas que eu prefiro esconder, pois não te interessa. Estamos cheios de selos para classificarmos as suas incompetências, estamos cheios de medos para rotularmos as suas camisetas. E, de tantas asneiras que correm pelos nossos ouvidos, estamos escutando pouco, com menos cuidado, com menos delicadeza às preciosidades que podem nos vir. Amortecemo-nos com esse tanto, nos descuidamos e tropeçamos nas feridas dos outros,  pisamos no que achamos que pouco nos importa, pois começamos a nos importar pouco para podermos falar mais, desabafar mais, sem ninguém para nos escutar.

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