Postagens

Mostrando postagens de março, 2014

Nó em pingo d'água - Feira de domingo

Desculpe-me, mas eu não sei mais fazer programa de domingo Acho que desaprendi a ser um sorriso Eu não faço questão de comemorar os meus dados Não quero mais recados falsos Se for para me desejar uma felicidade, Que seja porque eu mereço ser lembrada Que para ti a minha risada cause saudade Que eu tenha feito sentido Que algo em ti eu tenha sido Eu cansei de ser enchida Dessa gente enxerida Eu não sei mais fazer sala Não sei mais mentir em casa Não consigo mais ficar sem malas Sem parte de mim escondida e pronta para fugir Não consegui permanecer sem sofrer E não consegui sair sem cair

Autorretrato - Capítulo Trinta e Nove - O medo que falta

         Era imóvel ver a vitalidade se tornar desespero, ver as noções se perderem em vivências e experiências que destroem a realidade presente. Era uma tristeza profunda enxergar mortes com as quais não sabia lidar.         Confuso, muitas coisas eram confusas, muitas dores eram profundas e inexplicavelmente tramadas em camadas, afogadas por lavas, suprimidas em escuridões, em esconderijos vagos, sem certeza de seus passos, atropelados, com clareza de suas falhas quedas.         Ela não entendia certa repetição, como se esquecessem de si. Ela não entendia esse deslumbro, como se aquilo fosse magicamente um sonho irreal. Não entendia seu desespero em não conseguir entender, parecia que o mundo ia lhe jogar num limbo, sem fim e sem saída, num lugar mais errado do que esse mundo cujo qual ela nunca sentiu pertencer.         Esse medo não cabia a ninguém...

Hipo(crê)sia - Viventes de primeiro plano

Existem seres viventes de primeiro plano. São aqueles que necessitam e demandam, de todo o arredor, exigem estar e ser no começo, na frente do mundo. Normalmente, para esses, suas questões são amplas, filosóficas, aplicáveis a todas as hipocrisias que não eles. Jamais eles! São importantes e importáveis, urgentemente melhores. Pobres, tão importantes, tão necessariamente iguais e comuns, se ignorando, se ultra valorizando. Por quererem estar sempre na frente acabam por perder o que está atrás, perdem todos os que deixam para trás. Se existe uma justiça que eles culpam por injustiçá-los, foi mais um conceito excludente que eles criaram em suas cabeças para servir apenas a si, e quem vier a concordar com sua maestria. Eles inventam mentiras que juram ser verdades, para não se perderem em suas falhas, para não cometerem os seus erros, e para se livrarem de si mesmos. Eles divagam nas maravilhosas verdades que descobrem a cada segundo, e matam todas as possibilidades viventes que os rodeia...

Hipo(crê)sia - Sobre a falsidade que te constrói

Para você eu tenho três palavras: NÃO, MUITO OBRIGADA. Não quero ser uma hipocrisia descarada, sua filha-da-putagem mal lavada, sua compreensão homofóbica, seu sentimentalismo vendido, sua flexibilidade imposta. Não ouse por um segundo qualquer que seja, achar que eu não via sua podridão, que eu não ouvi suas mentiras. Não ouse pisar em mim. Conhecimento vem com o tempo e nos dá a sabedoria de como revidar. Pode tratar de engolir os seus complexos recalques pela minha existência, pois o meu silêncio não se abala com a sua voz hipocritamente afinada, com seus cílios de boneca e seu pancake de anjo. Bonecas são ocas. Anjos caem, fazem das suas virtudes seus malefícios. Não quero sua falta de atenção possessivamente ridícula nessa posição de dominação. Lembre-se do quanto você não sabe sobre mim quando me calo. Não quero o último lançamento, não quero o mais caro, não quero roupa de shopping, não quero bairro nobre, não quero carro sofisticado, não quero essa feminilidade do século passad...

Autorretrato - Capítulo Trinta e Oito - As guilhotinas

         Ela se corroeu, corrompeu, todo o mármore que viveu só deixou sua frieza permanecer a cada gota de sangue nas quais ela se desfez. Era cada vez mais rápido e potente não se deixar sofrer, e cada vez mais difícil retornar ao masoquismo tão sádico em seu sorriso hipócrita. Cada vez que deixou de falar optou por não colocar sua vontade no mundo, por deixar os outros imporem em sua cara suas surdas teimosias. Ela desistiu para não continuar algo que não queria, para procurar algo que sentia, uma maneira com a qual podia.         Eram corridas só para sair do lugar. Só sair, sem se deixar. E como ela fazia para explicar que não era uma desistência? Se é que precisava se explicar para os outros. Precisava? Queria? Ou estava?! Então, às vezes não resistia e se deixava. Pensava asneiras e falava besteiras. Martelava-se com outras maneiras, com quase estrelas que insistiam em forçarem suas barreiras, querendo sempre aparecer ...

Nó em pingo d'água - Menina dos olhos

Menina dos olhos Me corte os pulsos mais uma vez Se entregue sem cautelas em mais um gole Caia no chão com o porre que tomou de si Esmague sua cabeça com as dores que encontrou nos seus medos Tombe para o lado quando compreender a vertigem que esse mundo nos causa Só não chore de olhos fechados! Veja o que está acontecendo contigo Veja o peso que amassa a tua cara Veja como seus olhos fogem do que pode te conhecer Se veja cair para aprender a levantar Acredite em mim Não corra Não morra Não se abandone, Pois existem braços que não vão te carregar Existem mãos que vão te empurrar Não fique à esperar Me veja em minhas falhas mais uma vez Me avise quando eu irromper seus limites É só isso que eu te peço Talvez, é só isso que eu quero Ah menina dos olhos! Não caia em desesperos sem alguma esperança Não ranque seus dedos sem uma boa faca Porque o que menos queremos É uma pobre navalha Desgastada  Enroscada n o nó que você fez na garganta...