Autorretrato - Capítulo Trinta e Nove - O medo que falta

        Era imóvel ver a vitalidade se tornar desespero, ver as noções se perderem em vivências e experiências que destroem a realidade presente. Era uma tristeza profunda enxergar mortes com as quais não sabia lidar.

        Confuso, muitas coisas eram confusas, muitas dores eram profundas e inexplicavelmente tramadas em camadas, afogadas por lavas, suprimidas em escuridões, em esconderijos vagos, sem certeza de seus passos, atropelados, com clareza de suas falhas quedas.

        Ela não entendia certa repetição, como se esquecessem de si. Ela não entendia esse deslumbro, como se aquilo fosse magicamente um sonho irreal. Não entendia seu desespero em não conseguir entender, parecia que o mundo ia lhe jogar num limbo, sem fim e sem saída, num lugar mais errado do que esse mundo cujo qual ela nunca sentiu pertencer.

        Esse medo não cabia a ninguém sentir, não cabia existir, é uma parte da vida que te dizem, desde pequeno, pertencer-te normalmente. E ainda assim, lhe aterrorizava essa falta de tranquilidade, pois sabia dos erros que lhe aterrorizavam o passado, sabia o quanto ainda tinha por vir, e precisava resolver muitas coisas antes de certos fins. Talvez o fim acabe por matar o que poderia acontecer, talvez isso acabasse por lhe enlouquecer com desesperos infundados que não se dissipariam na ida, e não deixariam mais nenhuma vinda.

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