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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Nó em pingo d'água - Por que João virou refeição?

Porque Maria, como mulher de família, deveria cuidar do fogão.

Autorretrato - Capítulo Trinta - As bolhas (in)significantes

         Está posta toda a conexão que chamamos de cosmos no ar que respiramos a cada segundo. Estamos por toda a parte ao mesmo tempo em que apenas marcamos a incessante trilha que tomamos como escolha.         Juntamo-nos aos milhares para sermos completamente diferentes, e nos identificarmos com essa exclusividade em massa. Somos os bilhões que tem a mesma opinião sobre todo o resto, somos os quinquilhões que sofrem os mesmos pesares da vida. Afinal, talvez essa seja a única coisa que compartilhamos.         Chegamos nesse estado, dentro dessas capsulas que entramos, construímos esse espaço-tempo onde a dimensão se limita em correr desesperadamente para um exato lugar cujo qual nunca chegará.         De repente, quando escutamos o eco desse buraco em que nos emboscamos, bate uma solidão num reverbero estomacal e nos encontramos em uma imensidão vazia...

Nó em pingo d'água - O desejo do peso

Ela viu o reflexo da tristeza no espelho Se esvaziou com desprezo Engoliu todo aquele ensejo E virou um desejo Impossivelmente retorcido e caído Se tornou um desconcerto Sem notas nem pautas Apenas altas latas Sucateadas nas suas datas passadas Recicladas na teimosia da ida E ela, tão miúda Detalhadamente imprestável Oriunda estapafúrdia do fundo do poço Sem supersticiosas aspirações Com muita lama no osso E pouca cova no fosso

Hipo(crê)sia - O olho do umbigo

Sei que tenho um umbigo quando olho para ele, mas só sei se estou nele quando me aperto em mim perante os outros. Tem vezes que só quero não ter que aguentar o que acaba com o pouco de sanidade que me diz que, mesmo tendo perguntas ao invés de certezas, posso querer não engolir certas indelicadezas nessa minha confusão. Aí eu fico nessa: me achando errada por estar olhando pra tudo de dentro de mim e não conseguir concordar com as diferenças que me ferem. Estupidez a minha e a de quem se importa, por que quem não o faz simplesmente está com tudo no mundo, sempre vai se impor onde estiver, pois não precisa se preocupar com o que não os toca, com todo o resto que apenas reforça suas necessidades de imposição já que ninguém mostra aos outros como ser que nem si mesmos em suas precisas certezas preconceituosas.

Nó em pingo d'água - Vou-me embora pra Pingardes

Vou-me embora pra Pingardes Lá sou uma inflexão Lá a cidade tem meu nome Na conjugação que escolherei Vou-me embora pra Pingardes Vou-me embora pra Pingardes Aqui sou só reflexão Lá minha existência é um conjunto de vozes De tal modo mais que perfeita Que um distúrbio de multipolaridade Sendo muitos em um É extrovertidamente invertido Pois como um, sou de muitos E como mudarei Trocarei meu fim Colocarei coisas na cabeça Verei uns me antecederem Imaginarei outros me procederem! E quando estiver esgotado Escorro pra beira do rio Procuro a minha origem no meio d'água Pergunto informalmente Como fazer do futuro um subjuntivo Vou-me embora pra Pingardes Em Pingardes tem tudo São outros sujeitos Tem um radical seguro De conseguir aglutinar o infinito com o Ivo Tem ligação de sufixos Tem verbo à vontade Tem gente o suficiente Pra todas as gotas que querem cair E quando achar que não vou mais sair Me enclausurar de jeito Quando pensar que Não sou ma...

Autorretrato - Capítulo Vinte e Nove - Os pedidos lacrimejantes

          Ela só via olhos pedintes, implorando por um segredo, por uma palavra que fosse dentro dos seus modos, por um desejo, lacrimejando para tentar desembaçar o que poderia estar impedindo-os de ver aquilo que estava tão longinquamente na sua frente.         Tão próxima do toque ela estava intocavelmente sumida de si. Ela ficou tão grande por dentro e tão pequena por fora que não conseguia se achar nessas divergências. Escutou as palavras mais doces a violentarem incansavelmente, viu o que não conseguia manter perto.         Seus pulsos não paravam de se deslocar de tão forte que ela se prendeu em seus medos e frustrações. Atada em suas inseguranças não conseguia tocar esses olhares pedintes, não conseguia dar algo em troca, sentia-se um reles troco, um pouco de algo que se tornara completamente diferente do menos que ela estava.         ...

Hipo(crê)sia - Atelefonia brasileira

Tenho a extrema necessidade de ter disponíveis vias comunicacionais se quero viver num mundo com outras pessoas. Acredito que não seja um problema só meu. Largando o pessimismo vou encarar a positividade dos acontecimentos: estamos em um país que se preocupa com o controle dos vícios de sua população. Fiquei semanas com os serviços de telefonia móvel indisponíveis pela falta de sinal, quando consegui, com o auxílio de terceiros, comuniquei-me com a empresa, preocupada com as contas por vir, mas NÃO! Eu preciso me tratar, "Esses jovens que ficam pendurados nessas tecnologias!" Então pude contar com o apoio da minha telefonia móvel para me desintoxicar. Quando cheguei em torres firmes achei que tudo estaria resolvido. Fui atrás dos meus deveres, e vou pagar por não tê-los resolvido antes (cerca de R$ 4,90), e deixei tudo em dia - já que, fora do ar, estava fora dos dias também devido a essa minha incontrolável dependência. Passado esses perrengues, fui usufruir da telefonia fix...