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Os limites do tempo

    Havia acordado naquela manhã com o desconforto no limite da pele para o mundo, como se uma explosão pudesse acontecer a qualquer instante e colocar tudo o que já estava perdido à inexistência. O coração se apertava como se não tivesse a capacidade de sobrevivência.     Caminhando olhou para seus pés e mergulhou na sensação de que sempre estava dando os mesmos passos. Eu já passei do limite da exaustão faz muito tempo. Por que o meu colocar de pé um atrás do outro não me leva a lugar algum?     Aquela sensação de limbo divagava no ar. Aonde é que se quer chegar ao caminhar? O movimento só se dava porque estava nessa existência da vida, sem mais projeções, era apenas mais um dia a ser vivido. E em algum lugar ficava aquela pergunta escorregando no ar sobre com quem pode se partilhar essa desesperança.     Não existe mais tentativa de resolução, seria porque agora havia a compreensão de que não existiam coisas para serem resolvidas, era assim que...

Óde à miséria!

    Viva! Celebremos a miséria, a falsa maestra, o fingimento da própria vida. Celebremos o marketing efêmero, esse marketing do próprio veneno, o ego em enrijecimento, o pseudo investimento no desejo alheio.     Celebremos, pois é tempo de miséria! É tempo de quem se vende melhor pelas conexões na tela, é tempo do falso conhecimento, pois só importa o que vendo. É tempo de investir no profissional moribundo que diz: "eu sou o centro do mundo".     Celebremos a vida medíocre, pois a morte será apenas a lembrança do que foi registrado, então registre a foto do ensaio pago, a espontaneidade da própria vaidade. Vim aqui celebrar a querida amiga que nada conta, que suga tudo o que for possível para a própria conta, e permanece apenas com a soma, deixando a divisão para quem não vive nessa imagem miserável de sucesso imprestável.     O meu viva a todos os que preferem a elevação das próprias faltas maquiadas, pois acham as sombras demasiadamente pesada...

Querias

Quero O belo Elo Sincero Não aflito Rompido Desmedido Estremecido Quero Clero Sagrado Domado Não mísero Efêmero Severo Ou supérfluo Quero O que não Sem razão Por inaptidão

Coisa

Que coisa Afoita Na moita Biscoita Aflita Achando implícita Mas congênita Condição parasita Era inóspita Eremita Afeita À desfeita Descrita A receita Da ilícita Senhorita

Referência

As referências que lembra e as que escolhe esquecer Os nomes que lembra e aqueles que prefere nem dizer O conhecimento a que se referencia é aquele do qual se apropria      Eu sou o nome esquecido, a fala que você escolheu encobrir com a força da sua voz para parecer que era você quem estava a dizer. Vi em algum lugar, não me lembro para bem dizer, mas o mais importante é a minha fala e não o falado, pois eu sou agora a conexão do sagrado.                                                               Mas essa vida é boomerang, o que agora acha esperteza um dia volta como tristeza, volta naquela perda, volta em miséria  já que isso começou no sequestro da fala dela. Mas quem se importa Sou eu quem sofre mais que a marmota Sou eu quem merece a fala Penso tanto e que direito que me cala?     Sim, é a fala do...

Energúmeno

    Sabe, é loucura ou sanidade, não cair nessa fala de importância da própria idade? Às vezes fico pensando na superfície do conhecimento, como acho que só consigo dar alguns mergulhos com a minha curta respiração, mas eis que vejo alguém sentado à borda apenas com a sola do pé tocando a água, e essa pessoa diz que a água está maravilhosa.     Uma raiva imensa vem e me fecha a cara, percebo que a água está na verdade muito gelada. Vem aquela pergunta no ar: será que esse ser não poderia escolher viver bem longe de onde estou a permanecer? Essa é a partilha, o impulso da indignação que me diz claramente que não, é preciso que eu estabeleça os limites.     Então, por que essa constante volta? Por que o ser irresponsável não segue o seu caminho de idolatria, de quem tanto sabe, e me deixa na minha minuciosa sina de coerência e responsabilidade. Quando foi que a autorresponsabilidade passou a ser artigo de luxo? Quero que você siga o seu rumo energúmeno! Fique...

Limbo

    Não sei se essa impressão que me assola é exclusiva desse espaço-tempo que me encontro, mas existe mais limbo por aí do que possibilidade de vida. É como se tudo o que existe estivesse cercado por essa atmosfera de ilusão, onde as coisas parecem, mas nunca são.     Criou-se uma vida para além da matéria, mas não com a concepção de infinito ou de aquarela, apenas um fingimento de espaço que se diz válido, e no próximo instante, tudo isso pode ir para um vácuo de inexistência.     Não é que o que aparece some com a mesma facilidade, é que tudo que parece existir tem a possibilidade de sumir, como se essa nuvem de limbo engolisse até a matéria mais densa. Vamos nos construindo na mesma medida em que vamos inexistindo.     Fico me perguntando se ainda existe algum vínculo se é possível construir algo com afinco, gastando tempo e convívio. Muitos dizem pressa, mas eu nem acho que isso entra mais em questão, acho que é apenas ilusão, tentativa de co...

Sabe sabiá?

Sabe? O que era sabido Do sabiá descabido Que foi comido Porque despido Era temido Por ser enxerido E mesmo espremido Era exprimido Tudo o que era tolhido E oprimido Já era sabido Que era um sabiá descabido

Quem era querido?

    Quem era querido, do querer e do ido, daquilo que já havia sido, da imagem do que foi corrompido, de tudo aquilo que era doído, do que se imaginava mas nunca haverá de ser sido, porque a conjugação dos verbos não aceita esse padrão.     Era a campainha que tocava, ou será que era a própria toca que ouvia o barulho do que vinha, chamando pela própria ruína, desfazendo-se da própria ladainha? Disseram-me que não se rima palavras se os outros não forem entender os significados, achei que a efusão da lógica não precisaria seguir essa razão, devo ter errado a proporção.     Na pergunta ou naquilo que se escuta, não saber o que era não significou a contradição, significou a norma mais padrão, pois não saber é a constância desse sistema, é o que se espera para a medida certa de docilidade que mantém a mente passiva, ou pelo menos perdida, para que não trace o rumo da própria vida.     Esperava nada, com cada palavra, e mesmo assim questionaram o...

Saúde

    É esse sistema, que considera saúde o edema, o inchaço que não te deixa ser certeira, que impede a fuga pela eterna culpa de não saber ser inteira. Que seja, você será a válvula que não escapa.     Quem estabeleceu o parâmetro curiosamente não foi quem enlouqueceu, foi quem teve o seu apogeu, quem forjou o direito de destruir o que não é seu. E quem é que fica nesse breu, inexistindo no que deveria ser seu?     Calaram-se as cadelas, optaram pela morte de parte delas, e o resto foi a mais pura indecência, violência sem o mínimo de prudência, para que não sobrasse nenhuma sem sequela. Então quem não morre precisa de sorte, para minimamente sobreviver, ou pelo menos saber se esconder.     Quem disse desse sistema saúde, estava apenas no centro imune, podendo ignorar com contundência o desespero do que se desfaz no relento às margens dessa ignorância paliativa. É assim mesmo, porque é você quem está dilacerado, depapeurado até não restar força pa...