Os limites do tempo
Havia acordado naquela manhã com o desconforto no limite da pele para o mundo, como se uma explosão pudesse acontecer a qualquer instante e colocar tudo o que já estava perdido à inexistência. O coração se apertava como se não tivesse a capacidade de sobrevivência.
Caminhando olhou para seus pés e mergulhou na sensação de que sempre estava dando os mesmos passos. Eu já passei do limite da exaustão faz muito tempo. Por que o meu colocar de pé um atrás do outro não me leva a lugar algum?
Aquela sensação de limbo divagava no ar. Aonde é que se quer chegar ao caminhar? O movimento só se dava porque estava nessa existência da vida, sem mais projeções, era apenas mais um dia a ser vivido. E em algum lugar ficava aquela pergunta escorregando no ar sobre com quem pode se partilhar essa desesperança.
Não existe mais tentativa de resolução, seria porque agora havia a compreensão de que não existiam coisas para serem resolvidas, era assim que a vida ali acontecia. Só um pé depois do outro, pois caminhar para longe não resolvia, parar não resolvia, sair não resolvia, ficar não resolvia. Então talvez não exista algo a ser resolvido.
Voltando do que considerou ida, sem pensamentos de sorte ou morte, ouve por baixo da música que tapava os ouvidos: "Que cabelo lindo!". Eis então que surge um sorriso, que miséria hipócrita ficar feliz com uma aparência que no fim das contas é sempre passageira. Talvez a vida nunca vá me convidar a ficar, porque já me alojei em algum lugar.
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