Autorretrato - Não que alguém vá entender

    Quem foi que fez as perguntas? Quem foi inconveniente o suficiente para não se calar? Foi essa que quiseram calar? A que disse e desdisse do próprio mundo, da própria beleza, aquela que se desfez das fraquezas, e queria que não se incomodassem com a sua dissolução? Deveria ter desaparecido por completo então.
    Foi no momento em que percebi que o questionamento que fazia não cabia na agenda da vida que todos viviam, que vi que precisava me retirar, em alguma medida, não interessa o que saberiam, precisei criar uma vida escondida, uma que coubesse na imensidão que sentia, que fingisse o suficiente para se manter viva.
    O que ninguém me contou é que existia uma vastidão de universos escondidos pelos cantos, quase que falta esconderijo para eu poder fugir. Parece que tem uma necessidade urgente em um certo tipo de gente, nessa gente que não se aguenta, precisa ficar criando coisas, e cada vez mais coisas, e tem hora que falta espaço, mas a vida não tem limitação, então a gente inventa uma saída na contra-mão.
    Não me disseram quem foi que começou esse questionamento abjeto, mas também não reclamaram das asneiras que foram criadas em vão, quiseram até participar da expedição, então parece que o segredo da vida é apenas saber onde colocar essa mania de inventação, porque cada pergunta que nasce cria um novo buraco, aí a gente cria vida e espaço ao mesmo tempo, não que alguém vá entender.

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