Poetisa-me

Prepare-se! Está saindo o novo lote. Não sabemos se é de vida ou se é de morte, deixamos essa escolha para a sorte de quem nasceu rico, com nome, sobrenome e título de posse. Acho que alcançamos o limite da insanidade, chegamos ao ponto de ignorar os fatos para conseguir sobreviver. Quem tem fatos para ignorar, pois tem gente que não tem nem informação para processar, pois nem o direito de permanecer é garantido ao lar. Acho que estamos em um país que tem desprezo pela vida, onde ainda querem ter seres vivos como posse. Esse é o segredo da riqueza, servir a ceia sem nenhum escrúpulo na mesa. Então me alcance mais um gole de vinho, pois preciso embriagar as ideias, pois o novo normal é matar todas elas. Essas estruturas de dominação estão tanto em declínio, que a racionalidade já não faz mais sentido, então só lhes resta a violência. Desejos a todos nesse próximo ano, um melhor instinto de sobrevivência!

    Amanheci com o desconforto do calor, ouvi alguns sons ao fundo mas a mente ainda flutuava naquele espaço entre o sonho e a realidade. Pensei o que não me deixava levantar, e a verdade é que só queria um instante para permanecer, antes de vestir todas as camadas. Qual a importância em existir? Era um daqueles dias onde todos os sentidos se perdem no espaço que parece um eterno e infinito vácuo.     Não sei bem ao certo, mas é uma falta de sentido concreta. Não é um desespero cheio de desejo e angústias, é uma visão bem objetiva da vida. Vai ser exatamente isso, como sempre foi, os caminhos que se dizem tão compreensivos são sempre os mais traiçoeiros. Já não sei mais o que é preciso. Existem espaços em que simplesmente não vou poder existir. Simples assim.     Estou divagando, mas são compreensões que não gostaria de ter. A solidão é muito fácil, e é a opção que gostaria de ter, mas nada funciona assim. Comumente precisamos resistir e isso cria uma armad...

Queria Querida Expresso E subida Dividida Carcomida Sem espaço Sem vida Desespero Excesso de tempo Falta De amparo Mas a crítica É para o que é humano Que queria Sem medir A subida E na queda Não espera fadiga Quer poupar Ou queria Só para se manter Na vida Saída Seria O que queria?

Estamos prestes a zerar a vida, pode ser a virada do ano ou a virada da vida. Pode ser simplesmente o fim do mundo. Um absurdo! Acho que ninguém estava preparado para ser responsável, afinal ninguém quer ser culpado. Mas que estado! Que estado que cobra da miséria o sangue para circular a podridão que consome toda essa imensidão? De tanto desespero, precisamos imaginar o mundo inteiro, o que vai além do tempo, para acharmos que teremos alguma solução, senão só nos sobra desprezo. Queremos diminuir o tempo, ou exaltar todos os nossos feitos, mas estamos na realidade dos nossos escrúpulos. Não saberemos começar do zero.

    Desculpa, ex-culpa, um pedaço travado de multa que fere cada pedaço de pele. Não sei bem qual seria o pedaço de morte que cabe nessa sorte, entre todos os entraves, nas entrelinhas da redação que dividiu o pedaço de pão. Não sabemos mais de quem é a culpa, e seria isso a previsão ou a demolição de tudo que achávamos estar por vir?     Pensei caber em todos os espaços, mas cada divisão do espaço foi uma ruptura da qual parece não haver mais fuga. O que faremos quando entendermos? Chegará um dia em que reviveremos essas memórias desse tempo, ou apagaremos os conflitos das redes para nos contradizermos? Deixarei tempo para preencher os cômodos que esvaziamos sem perceber.     Gostaria de saber, de preencher, de talvez desfazer, mas acho que já aconteceu tudo o que prometeu. Não vim pedir desculpa, pois já não achei mais a culpa. Queria ter o foco para terminar sem titubear, mas acho que não estamos no ponto de nos enrolar, já passamos da hora de pestanejar...

Eu nasci nesta vida para ser artista, inventar no meio da rua uma história bonita, com rima de poesia Eu nasci para ser artista, e rir da tristeza que me consola, ser mais um poema sobre a nossa história Eu nasci para ser artista, para divagar na empatia, para sofrer de arritmia Eu nasci para ser artista, e não ignorar as mazelas da vida, para ser vela, de quem só tem fósforo Eu nasci para ser artista, e tocar as almas com palavras esquecidas, para parecer uma doida varrida Eu nasci, e vim artista, para ser esquecida, para ser consumida, para ser efêmera e para ser infinita

Quer dizer que agora você veio aqui? Veio me ver sair, esperar na esquina só para me custar a vida. Agora você está aqui, esperando a minha ruína e sem entender os limites da minha saída. Quando foi que te dei esse direito? Gostaria de saber, pois estou pegando ele de volta, e saiba que não tem mais volta. Dessa vez foi menos pior, espero algum dia ser melhor. Pelo menos entendi os meus limites de vida. E agora? Você vai fazer o que? Só consegue me esperar na saída, pois deixei tudo muito bem organizado. A posse é a maior ilusão que os ricos opressores tem. Experimenta ser alguém que não vai ser dominado, isso só causa repulsa porque enxergam o quanto somos iguais. Nessa vida, só nos cabe dominar a nossa própria vida. Então essas palavras de amor e de ódio são apenas as ilusões e apegos do ego. E que ego frágil, pois em poucas ações consegui destruí-lo. Sua perspectiva é apenas uma fatia da pizza, por estarmos em oposição você se achou diferente, mas a realidade é que ocupamos o mesmo ...

    Queria escrever bonito, fazer poesia, ser artista. Acabei tropeçando em todos os meus medos, rolei no desfiladeiro sem nem entender onde foi o começo. Por que não sei ser toda essa lógica? Não sou estrutura e nem formosura. Deixei a minha vida ser uma espécie de correria, onde não sabia se fugia ou me escondia. Procurei espaço e só achei os estágios que chamamos de vida, que fingimos serem partidas. Corri daqui, mas não fui parar aí.      Escrevi em ti poesia, as marcas da vida, os espaços da minha saída. Esperei muito tempo para me encontrar caída aqui, ainda com vida. Se tivesse errado os segundos poderia ter me perdido nesse buraco sem fundo. Falaram exatamente em tudo o que eu iria falhar, então tive que travar algumas batalhas para começar. Fiquei tão focada em perseverar, que não percebi o quanto começaram a admirar o caminho que estava trançando.      Passaram a gostar tanto, pois nem imaginavam essa possibilidade de existir, que come...

Partiu dessa vida Os pedaços de comida A minha escrita Ficou na saída Todas as despedidas Na minha esquina Deixei comedida Rompida pela carícia A minha partida Achei essa vida Uma nova recaída Na minha estadia

Quero te falar sobre ousadia. Acho que ultimamente permanecer está sendo a nossa mais ousada prova de vida. Gostaria de parar de respirar, mas para ceder é preciso reconhecer que os podres ficariam, venceriam. Estou aqui só de teimoso mesmo. Nessa altura do campeonato, deixar essa podridão continuar dominando não é opção. Não vejo luz no fim do túnel, vejo flashes que me cegam e caio de tanto tormento. Não sei mais o que vejo, quiçá o que desejo. Mas acho que nunca tivemos muita opção, continuar andando e achar um jeito de rir da desgraça que consome a nossa nação. Quem sabe a gente consegue cavar um túnel que saia desse poço sem fundo. Permaneceremos resistência então, com a resiliência que forjamos na marra da nossa raça. Sei lá se algum dia voltaremos a ter paciência, se entenderemos o que é ter consciência, se conseguiremos manter alguma eloquência. Não sei se estamos nos mantendo, ou se a vida está só se estendendo, estamos comendo? Está me faltando a noção, o tempo que perdemos n...

    Olá minha querida, parece que você fez uma transição, mudou a sua concepção, será que foi obrigação? Antes você me temia, e depois entendeu que o medo estava em você, sou a sua mais fértil imaginação. Então isso significa que agora eu sou inofensivo? Ou sou todas as obrigações sociais que te apertam cada vez que chega perto das margens? Ah, menina! Você é poética demais, ninguém aguenta. Existe alguém que entenda?     Só estou aqui para saber se você veio me salvar. Você está curando algo ou tentando atravessar esse lago sem barco? Acho que sem suporte você só vai conseguir se afogar. Posso ir com você, podemos sair daqui, mas preciso que me carregue no colo. Está com forças para isso? Estou fazendo muitas perguntas, você tem razão, esse não é exatamente o meu perfil. Só estou segurando seu braço porque você não me estende a mão.     Acho que realmente podemos coexistir, habitar um novo lugar, criar um novo lar, mas vejo que você só está pensando em fug...

Nossa voz é resistência É desejo e clemência Queremos dias melhores Sejamos melhores Nossa voz é poesia É retrato e comida Queremos suporte Somos mais que um esporte Nossa voz é estadia É comedida e comprimida Queremos liberdade Seremos honestidade Nossa voz é impertinência É particularidade de violência Queremos comodidade Sejamos comorbidade Nossa voz é acordar da dormência É retorno e cadência Queremos todas as partes Seremos as verdades Nossa voz é dolência É subsistência Queremos igualdade Somos as inconformidades Nossa voz é resiliência É um grito no escuro da carência

A insanidade é a melhor resistência, e pode definir caminhos extremamente opostos. Pode nos mover na luz ou na ignorância, com informações assustadoras, onde a nossa única opção é não desistir, ou, pode ser com a reprodução cega de privilégios, onde muitas vezes não se enxerga nem o próprio umbigo. Um caminho é enxergar toda a realidade, enquanto o outro é ficar apenas na sua realidade. Parece um limite tênue entre ser honesto e louco. Exigir demais, ou muito pouco. Será que podemos caminhar mais um pouco? Não sei bem o que nos espera, e seria muita ousadia querer prever algum destino, mas acho que permaneceremos nos debatendo. Foi um péssimo conselho, eu sei, mas é o que vejo. Talvez seja o que vai ser possível, simplesmente continuar lutando. Acho que só deixaremos tudo quando pararmos de caminhar. Até lá, seguimos em nos desesperar.