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Mostrando postagens de julho, 2012

Autorretrato - Capítulo Dezessete - Viagem estática pelo desfalecimento da solidão

         Ela só estava fisicamente, e, finalmente, podia sentir o que estava afastando de suas camadas mais externas. O desejo que seus surtos pediam quando seus olhos tremiam estavam aterrorizando seus ossos com uma descontrolada fobia imagética; bastava seus pensamentos para que ela ficasse trancafiada a uma chave, uma mísera chave que acelerava seu pulso cada vez que girada; a cada som suas pupilas dilatavam como se um segredo se rompesse com suas fibras, revelando-a.         Assim ela se encontrava, trancafiada nessa desesperada solidão que escolhera, criando uma angústia que lhe sugava todas as forças e a esmagava por dentro, criando uma carcaça que a implodia em suas convicções.         Ela se trancou, pois sabia que sua tamanha fragilidade não aguentaria ter a pele tocada pela luz do sol e as feridas abertas pulsantes pela brisa do vento. Então ela se isolou por portas trancadas e c...

Autorretrato - Capítulo Dezesseis - A passagem de uma presença

         Tornamo-nos singularidade quando nos identificamos como coletivo, aproximando o que consideramos como único a uma fragilidade de inclinação, a queda que nos compara com o entorno para fortalecer o que configuramos como permanência.         É o fogo da queda que se apaga com a velocidade da mudança, transformando em cinzas porosas o que um dia foi carne em sua consistência. E tudo se estabiliza em sua continuidade; quando o fogo é contínuo seu movimento se torna uma imagem estática em sua previsibilidade.         Nas estabilidades passamos pelo mundo, olhando as passagens e vivendo as aproximações, inclinando o que eram as suas curvas, seus contornos, tornando-nos, constantemente, os caminhos que tomamos em um gole áspero de uma bebida quente no frio do inverno.         As dúvidas do que sou me esvaziam de mim, tirando o peso alheio para sentir ...