Autorretrato - Capítulo Dezesseis - A passagem de uma presença

        Tornamo-nos singularidade quando nos identificamos como coletivo, aproximando o que consideramos como único a uma fragilidade de inclinação, a queda que nos compara com o entorno para fortalecer o que configuramos como permanência.

        É o fogo da queda que se apaga com a velocidade da mudança, transformando em cinzas porosas o que um dia foi carne em sua consistência. E tudo se estabiliza em sua continuidade; quando o fogo é contínuo seu movimento se torna uma imagem estática em sua previsibilidade.

        Nas estabilidades passamos pelo mundo, olhando as passagens e vivendo as aproximações, inclinando o que eram as suas curvas, seus contornos, tornando-nos, constantemente, os caminhos que tomamos em um gole áspero de uma bebida quente no frio do inverno.

        As dúvidas do que sou me esvaziam de mim, tirando o peso alheio para sentir o real em sua aceitação, tendo a certeza de que se é, com tudo mais, a particularidade dessas coleções que estão unidas por um ponto específico. Então, tiro os meus pés do chão, suspendo-me isolando as disparidades.

        Subo tentando não cair, sem saber a referência de cima, pensando não ser baixo, ficando na certeza que crio da angústia que não percebo. Mergulho tanto em mim que me vejo em tudo, agora, neste instante de certeza que sei sentir, mesmo estando em um vácuo de referências, a minha suspensão, numa loucura que me garante estar louca, sentindo o que vejo no nada, por estar sozinha no meu olhar presente no que vejo.

        Não sei mais para onde estou caminhando, só sei que vejo tudo a partir da referência que sou.

        Foi o que ficou de uma bela presença, sua calma elegância tingia no espaço uma cor vibrante, com um inebriante magnetismo que exalava a tranquilidade do desespero. Seu suave tom de voz suspendia meu corpo em atenção e fazia minha mente borbulhar junto com as minhas pupilas dilatadas.

        Aquela verdade real e magnética da vivência de suas palavras me espancou e eletrocutou com sua sutileza tão viva e sincera.

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