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Mostrando postagens de julho, 2022

Energúmeno

    Sabe, é loucura ou sanidade, não cair nessa fala de importância da própria idade? Às vezes fico pensando na superfície do conhecimento, como acho que só consigo dar alguns mergulhos com a minha curta respiração, mas eis que vejo alguém sentado à borda apenas com a sola do pé tocando a água, e essa pessoa diz que a água está maravilhosa.     Uma raiva imensa vem e me fecha a cara, percebo que a água está na verdade muito gelada. Vem aquela pergunta no ar: será que esse ser não poderia escolher viver bem longe de onde estou a permanecer? Essa é a partilha, o impulso da indignação que me diz claramente que não, é preciso que eu estabeleça os limites.     Então, por que essa constante volta? Por que o ser irresponsável não segue o seu caminho de idolatria, de quem tanto sabe, e me deixa na minha minuciosa sina de coerência e responsabilidade. Quando foi que a autorresponsabilidade passou a ser artigo de luxo? Quero que você siga o seu rumo energúmeno! Fique...

Limbo

    Não sei se essa impressão que me assola é exclusiva desse espaço-tempo que me encontro, mas existe mais limbo por aí do que possibilidade de vida. É como se tudo o que existe estivesse cercado por essa atmosfera de ilusão, onde as coisas parecem, mas nunca são.     Criou-se uma vida para além da matéria, mas não com a concepção de infinito ou de aquarela, apenas um fingimento de espaço que se diz válido, e no próximo instante, tudo isso pode ir para um vácuo de inexistência.     Não é que o que aparece some com a mesma facilidade, é que tudo que parece existir tem a possibilidade de sumir, como se essa nuvem de limbo engolisse até a matéria mais densa. Vamos nos construindo na mesma medida em que vamos inexistindo.     Fico me perguntando se ainda existe algum vínculo se é possível construir algo com afinco, gastando tempo e convívio. Muitos dizem pressa, mas eu nem acho que isso entra mais em questão, acho que é apenas ilusão, tentativa de co...

Sabe sabiá?

Sabe? O que era sabido Do sabiá descabido Que foi comido Porque despido Era temido Por ser enxerido E mesmo espremido Era exprimido Tudo o que era tolhido E oprimido Já era sabido Que era um sabiá descabido

Quem era querido?

    Quem era querido, do querer e do ido, daquilo que já havia sido, da imagem do que foi corrompido, de tudo aquilo que era doído, do que se imaginava mas nunca haverá de ser sido, porque a conjugação dos verbos não aceita esse padrão.     Era a campainha que tocava, ou será que era a própria toca que ouvia o barulho do que vinha, chamando pela própria ruína, desfazendo-se da própria ladainha? Disseram-me que não se rima palavras se os outros não forem entender os significados, achei que a efusão da lógica não precisaria seguir essa razão, devo ter errado a proporção.     Na pergunta ou naquilo que se escuta, não saber o que era não significou a contradição, significou a norma mais padrão, pois não saber é a constância desse sistema, é o que se espera para a medida certa de docilidade que mantém a mente passiva, ou pelo menos perdida, para que não trace o rumo da própria vida.     Esperava nada, com cada palavra, e mesmo assim questionaram o...

Saúde

    É esse sistema, que considera saúde o edema, o inchaço que não te deixa ser certeira, que impede a fuga pela eterna culpa de não saber ser inteira. Que seja, você será a válvula que não escapa.     Quem estabeleceu o parâmetro curiosamente não foi quem enlouqueceu, foi quem teve o seu apogeu, quem forjou o direito de destruir o que não é seu. E quem é que fica nesse breu, inexistindo no que deveria ser seu?     Calaram-se as cadelas, optaram pela morte de parte delas, e o resto foi a mais pura indecência, violência sem o mínimo de prudência, para que não sobrasse nenhuma sem sequela. Então quem não morre precisa de sorte, para minimamente sobreviver, ou pelo menos saber se esconder.     Quem disse desse sistema saúde, estava apenas no centro imune, podendo ignorar com contundência o desespero do que se desfaz no relento às margens dessa ignorância paliativa. É assim mesmo, porque é você quem está dilacerado, depapeurado até não restar força pa...

Ela

Espera dela Quem era Que se dizia bela Meio a esfera De culpa E espera Era ela E dela Não mais Que entrega Da parcela