Autorretrato - Urgência

    Amanheci com aquela urgência no peito, aquele desejo invadindo a mente de ansiosos pensamentos, uma previsão de tempo sem a menor sombra de reconhecimento. Amanheci achando que tudo era perda de tempo, que nem ao menos eu seria algum tipo de conceito. Acordei com a mão segurando o próprio aperto.
    As palavras ditas rondaram a incompreensão que sobe a espinha em sinal de desilusão. O desconforto deveria ser o aviso da partida, e não o costume ensurdecedor da própria ruína. Seria o meu olhar a sina do desepero? Sempre penso em como é possível tudo o que apenas eu vejo, sendo que não acho dom e nem defeito.
    Passei o dia sem entender o conceito de tempo, o relógio rodou e eu não me dei por satisfeito. Quando será o momento de recolher toda a percepção desse sem jeito que algum dia se materializou em sujeito? Deixei a noite chegar sem conseguir perceber o tempo passar. Seriam essas as horas que jamais conseguirei recuperar?

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