Autorretrato - Muda

    Frequentemente penso no que muda, nas certezas das coisas que vinham, mas parece que entramos em uma linha de tempo alternativa, um universo paralelo todo ao reverso. O que aconteceu no caminho? Será que perdemos o rumo, ou mirávamos em uma paisagem que nunca fez parte desse caminho?
    Às vezes penso no quanto fui muda, em que momento deixei-me ser muda, calando os desejos, as dores e os aconchegos. Teve um momento em que a fala começou a se debater, a tentar aprender a convencer, mas já haviam a convencido de sua inadequação, então ela achou que era um grande empurrão.
    Chegou um momento em que corri, tentei chegar o mais longe possível, mas acho que atingi o limite do impulso, tentei ir alto e retornei dando com a cara no mundo. Acabei descobrindo que sabia falar, mas não sabia muito bem o que queria articular, guardei tanta coisa que nem sabia por onde começar.
    Então quando voltei, quando o impulso virou rebote, quando me revirei na própria sorte, achei que o erro era então o meu destino sem jeito. Mas estou tendo um problema, voltei descontente, não consegui ficar plena e sorridente, escolhi esquecer dessa gente que mente. E aí muda, o que emudecia virou muda que plantei na própria lamúria, pois não dava mais para chorar sem buscar alguma cura.

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