Autorretrato - Referência

    Tenho medo de me chamarem de burra, de acharem que vou ser um bocado de referências, um amontoado de normas gramaticais das mais cultas, e simplesmente descobrirem que tudo o que estudei só veio da vida, que fui barrada na entrada academicista. Tenho medo de esperarem muito e descobrirem que eu vivo com cada vez mais pouco, será que isso me faz um louco?

    Fiquei pensando no que poderia chamar de referência, quem será que assinaria a minha carta de resistência, dizendo que de tudo eu fui apenas uma ocorrência, gravíssima se levarmos em consideração a hora do dia. Quem será que vai assumir que me ensinou, que vai dizer que não se lascou, quem vai ousar dizer que eu sou realmente boa, se isso pode significar que tem alguém que é ruim? Seria esse ódio apenas reflexo de se sentir oposição?

    Pensei que ser justo bastaria, mas olha para o mundo, pensar isso é realmente ousadia. Achei que poderia contar com a minha eterna saída... Talvez estivesse certa, eterna saída significa impermanência, seria isso parte da minha deficiência? Quem é o fluxo das águas, poderia ser a terra que solidifica toda a matéria? Acho que fui eu quem viajei nessa ideia.

    Excluíram-me do saber então, ou sou eu quem fujo em vão? Não quero essa normativa hipocrisia só para dizer que entendo tudo da narrativa. Acho que a simplicidade foi no oposto da norma culta, talvez só porque preferiu a felicidade ao invés do lucro da multa. Tenho medo de que achem que sou indecência, já que vivo com esse tipo de referência.

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