Autorretrato - Impermanência

    Pra ser bem sincera pensei em para de usar um nome, qualquer que seja o significado, pensei em deixar tudo junto e quem quiser que faça algum sentido porque acaba tudo sendo mesmo coagido. Ouvi uma bela voz e não pensei em mais nada, fiquei naquele som suave, sentindo a vibração da própria vida, mas me pediram para abrir os olhos e julgar com outros sentidos. Não fez a menor diferença, mas teve gente que não quis mais ficar ali. Tem gente que fala que isso é falta de coração, mas eu acho mesmo é que é falta de juízo, falta de razão se considerar melhor do que algo que é pura ilusão.

    Vi duas nuvens no céu que mais pareciam dois borrões do que duas nuvens, mas se está no céu a gente chama de nuvem. Pode ser que elas pareçam estarem perdidas naquela imensidão, ou vai ver que elas não quiseram ter outro tamanho. Vai ver elas são o fim e o começo, quase desaparecendo, ou quase surgindo, sendo atravessadas pela luz, não tendo uma densidade opaca. Vai ver elas mudam com o tempo, e se desfazem com o vento. Vi a nuvem parecendo tão lenta, e não pensei em todas as suas mudanças.

    Pode ser que seja só isso, a impermanência em distâncias diferentes, talvez isso me faça não querer saber de um nome específico, ou achar que tanto faz, não porque pode ser qualquer coisa, mas porque eu não vou ser outra coisa. Quando tenho nada pra fazer fico assim, divagando na minha cabeça, pensando em tudo o que pode fazer parte de uma sentença. Pode ser que nem importe, mas gosto de pensar mesmo assim, pode ser que ninguém olhe, mas gosto de imaginar ainda assim. Pra ser bem sincera, pensei só pra deixar pensado, agora vou aproveitar o resto do tempo pra ficar avoado.

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