Autorretrato - Perdi a graça
Pensei muito antes de vir contar essa notícia, considerei todos os pontos positivos e negativos, e não cheguei a nenhuma conclusão. O que me fez realmente tomar essa decisão foi a impossibilidade do tempo. Fiquei numa sinuca de bico, então por mais que eu escolha não dizer nada, o tempo vai mostrar o que tentei esconder em vão. Então, lá vai: eu perdi a graça.
Acho que agora preciso explicar então. Perdi a graça de ser feliz, esse mundo engarrafou a felicidade e vendeu ela em larga escala, cheia de açúcar que é pra viciar de vez. As pessoas compram um estoque para manter a vida, como se fosse um combustível que não viesse da própria natureza humana. Quando isso aconteceu eu perdi a graça, essa de ser encantadora e bonita.
Eu cresci com um monte de felicidade por dentro, mas vi que o mundo a preferia em doses unitárias, comedidas e alienadas. Parece que a felicidade só cabe a você, e nada mais do entorno importa, mas, sendo bem sincera, você já olhou em volta? Vejo gente adoecendo e capengando, mas fui eu quem fiz a escolha errada.
Perdi a graça de encantar a vida, porque ela só é cruel as vezes, e mesmo com tudo isso, a gente consegue fazer tanta coisa bonita. É revoltante essa beleza hipócrita da vida. Então perdi, não quis mais ter graça, ultrapassei o limite da risada, e foi ficando mais criterioso sorrir. Gosto de falar assim, porque as pessoas acham que se não há felicidade é porque é tristeza na certa, e não, só cansei desse limite de felicidade.
Hoje é isso, está me exigindo mais critério para sorrir, não é qualquer palavra que me acalenta, qualquer fala que me atormenta, é apenas uma exigência com tudo o que se apresenta. O bom de perder a graça, é que você encontra a própria farsa.
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