Autorretrato - Ódio

    Talvez o tamanho do ódio seja o retrato, aquela realidade ignorada, condensada até que não houvesse mais qualquer possibilidade de contenção, então a vida explode em sua fúria, rasga a carcaça para gritar com toda a força da sua alma. Houve um tempo em que achei ser fraqueza, ou algum tipo de descontrole, mas existe um limite de força nesse conceito.

    Entenda desse jeito, a força pode ser necessária para algo ser feito, pode ser bela em algum contexto, mas pode ser o mais grotesco movimento. Existem várias aplicações para a palavra. O asco te faz evitar certos lugares, mas pode te fazer estar exatamente no lugar equivocado. Não dá para saber sem uma referência, alguma perspectiva.

    Então só é possível a parcialidade, ou estaremos em um circo sem espetáculo, não é possível entender a ordem da vida se não houver roteiro. Ilusão é quem diz que não importa, pois desconsidera a sua precisa manifestação. Talvez exista algo extremamente necessário nessa perspectiva, talvez estejamos considerando um ponto de partida, senão pararíamos antes mesmo de começar.

    Acho que tem quem está nesse momento sem o entendimento da própria vida, então desenham margens muito fortes, ou apagam todos os rabiscos. De uma maneira ou de outra, acabam com qualquer arte, e nem destroem os conceitos, apenas dobram o que convém. Talvez essa ignorância consigo mesmo esteja alimentando esse contexto, esteja construindo esse desespero. Será possível encomendar outro retrato?

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