Autorretrato - Embriaguez

     Vou deixar de lado essa jornada, como se eu tivesse escolha de não estar em alguma caminhada, vou sentar aqui no canto emburrada. Foi o que pensaram em algum instante, foi o que eu não entendi e assim por diante. Quem diria, não precisava cumprir nenhum papel, pois já estava na vida, e isso não era um resumo, era todo o conteúdo.

    Continuo nos mesmos passos, muda o compasso, o ritmo e o esquadro, a perspectiva que não afunila, e ainda assim, são os mesmos passos, não tão diferentes do moço que está do lado. A diferença agora é que a pressa não me ignora, olha-me nos olhos e convida a valsar, como se estivéssemos em um espaço vazio, despreocupada com o que estamos a derrubar. Chegou um ponto em que fechei os olhos e deixei o ritmo me levar.

    É exatamente o que não deveria! Construir esse vazio de gente, sem excessos, sem entulhos, sem pesos e sem domínio. Deveríamos ter mais tempo para nos perder no sopro do vento, para sentir o que se mexe por dentro, aquela angústia de sermos nós mesmos. É que me confundi um pouco, ouvi muita gente se dizendo pobre coitado, vitimizando a própria lamúria, sem entender que esse era o som que preenchia as suas lacunas.

    Então escolhi gritar a minha própria música, desafinada e empolgada, achei o ritmo da minha loucura. Queriam que eu fosse mais uma, mas escolhi ser apenas uma, e ninguém se fez por entender. Pode ser excesso de lucidez, ou uma eterna embriaguez, acho que isso, nunca vou ficar a saber.

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