Hipo(crê)sia - Espera

    Não dá mais nem para ter raiva, senão a gente fica nesse eterno negócio de comercializar os direitos básicos de vida e existência. Não dá para remar na contramão, a gente aproveita o fluxo e mergulha mais fundo na correnteza, cria uma estrutura onde ninguém espera, e emerge, tira mais proveito do que achavam ser os nossos defeitos. Não sou o melhor na esperança, acho uma ideia passivamente estúpida, mas tenho certeza da potência dos esconderijos, do tempo necessário para desfazer um abismo. O que está dado por aí, funcionando no piloto automático, é uma construção lamentável, um aproveitamento da miséria humana, e quem já nasceu com menos recurso de extração, sabe criar rotas de fuga inimagináveis. Acho que é assim que vamos proceder, tentar nos esgueirar da devastação que continua a nos desfavorecer, e encontrar refúgios para sobreviver. Não vai ser tão rápido e nem tão fácil, mas estamos vendo amolecer as bases desses impérios. A ganância nunca estará pronta para ceder, então precisaremos do absurdo para transparecer, espero que seja isso que vai acontecer.

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