Autorretrato - Já vim aqui
Venho aqui simplesmente para vir. Já houve um tempo em que vinha para escrever sobre uma jornada, não com a pretensão de nominar começo, meio e fim, mas com a vontade de compartilhar algum sentido, escrevia de maneira fugidia, pois não sabia o que me pertencia, não sabia sobre o que podia falar, não sabia quem era. Já quis desabafar, gritar todas as injustiças que não conseguia mudar, cuspir o ódio que sentia me consumindo, não sabia correr sem tropeçar, sem deixar a vida desandar, não sabia exatamente do que corria, não tinha noção da violência que me afligia. Agora escrevo para estar aqui, nem mais nem menos.
Cheguei a alguns entendimentos, e acho que nunca chegarei completamente a lugar algum, se é que você me entende. Entendi o que precisava tanto falar, o que tanto me apertava e incomodava, o que me impulsionava e me tirava o sono. Entendi que não há nada a se fazer, e escolhas a serem feitas a todo momento. Achei muita gente pequena por aí, e estar vivendo essa vida sempre me atormentou um pouco, nunca achei um encaixe, um lugar que pudesse dizer que é o qual pertenço, mas nessa intensidade, acabei ganhando o mundo inteiro. É difícil para quem está a minha volta, pois sempre que saio, não tenho certeza se vou voltar.
A maior volta ao lar que consegui ter foi apreciar o viver, e continuar caminhando. Não consegui trilhar os caminhos que mostraram, essas opções não me bastaram, sempre quis muito mais, sempre tive muita sede e muita pressa. Vivi um tanto rápido, mas não me arrependo, sempre dou um jeito, talvez seja isso que eu vá levar para o meu leito. Pensava rápido demais, agora preciso de muitas pausas para me encontrar, encarei todo o meu sofrimento, o que já queria ter feito muito antes, mas não entenderam. A minha sina é ser por inteiro, e não é todo mundo que está pronto para isso, as pessoas ficam nas margens de si mesmas e não julgo, isso pode ser suficiente para uns, mas eu quero mergulhar fundo e respirar na superfície ao mesmo tempo. Quero tudo, e quanto mais tudo eu consigo, mais nada carrego.
Agora estou aqui, amanhã já não se saberá, e é apenas isso. Vejo tanta coisa, e percebo que nunca tive a efetiva vontade de me encaixar, de caber em algum lugar, isso sempre me pareceu muito pouco. Sei que a jornada é solitária e cheia de gente ao mesmo tempo, aprendi a permanecer apenas em mim mesmo, é assustador e libertador ao mesmo tempo. Espero que entenda que sem essa vida para viver, não temos muito o que fazer.
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