Autorretrato - Contas

    Perdi as contas já, esse mundo nos decepciona sem medidas. Não sei qual o entendimento dessa minha exigência, mas é um grau de excelência que parece impossível de existir. As vezes penso que deveria desejar apenas coisas materiais, pois isso parece fazer algum sentido, mas qual a relevância disso?
    Todo o caminho só pode ter ganhos se você perder algo, e espero que seja um esvaziamento das coisas ruins para podermos carregar as boas, mas fica difícil explicar isso para esse excesso de apego que nos ronda, que sonda qualquer movimento que possa gerar algum tormento para essa sociedade de sombras.
    E tudo vai caminhando assim, escondendo pelas metades as partes que não convém para forjar uma aparência mais adequada, para estar aceitável nesse egoísmo lamentável. Vamos consumindo essas frases prontas, cheias de revoltas enrustidas, onde a essência da alma foi dissolvida num amargo licor de arrependimento.
    Do que vale tantos desejos se vamos definhar? Tanta sede para encontrar o maior copo, enquanto deveríamos estar procurando uma fonte para nos saciar? A vida é esse infinito ciclo que não sabemos quando vai acabar. Já me perdi nas contas do que vale o meu sofrimento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Autorretrato - Capítulo Vinte e Nove - Os pedidos lacrimejantes

Autorretrato - Capítulo Trinta e Seis - Permanência oscilante