Autorretrato - Vento
Estava caminhando na rua, sentido a brisa, pensando que vento não é coisa mensurável, é coisa sensitiva, sensível na pele para fazer algum sentido. Não basta ter olhos, é preciso ser corpo, é preciso presença, senão passa e a gente nem percebe que afetou a gente. Estava pensando se todo mundo pensa na vida com a mesma frequência que eu bocejo. Para mim é todo dia, é quase que toda a minha vida.
Falaram que me falta o freio de mão, que preciso saber estacionar na subida e na descida, mas não consigo permanecer se tem movimento acontecendo, nem que seja lento. Será que estou desperdiçando o meu tempo? Preciso de mais aconchego. Não tem quem acompanhe o meu ritmo, pois nasci num descompasso ainda não especificado. Sei não, mas acho que só sabe o que é medo quem se viu no embalo da descida da própria vida.
Pensei em fazer mais sentido. Pensei em fazer um texto mais curto. Pensei em usar palavras mais objetivas, mas parece que nada disso contempla a minha essência nessa vida. Pensei em ser menos evasiva, mas parece que não reflete o que borbulha aqui dentro. Deixei pra lá então, todos esses conceitos de ilusão, e fui respirar o ar que é amigo do vento. Alguém me disse que preciso de mais jeito, mas acho que não tenho modos.
Quando voltei para casa e abri a porta, já sabia que estaria guardando todo esse meu desconcerto. Não sei explicar direito, só sei explicar desse jeito efêmero, é o que melhor faz juízo a essa minha falta de amparo legalizado. Quem diria que permanecer sozinha é a saga da minha vida. Fechei a porta só para garantir um pouco da minha sabedoria. Não espero que entenda.
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