Autorretrato - A partida do parto

          Queria saber mais sobre o espaço-tempo, os limites dos avessos, tentar desviar de algum defeito. Se tivesse nascido com o dom da riqueza, talvez conseguiria produzir mais beleza, sensatez ou leveza, mas parece que só fico brincando com a lucidez. As vezes penso que é besteira jogar palavras ao vento, mas vejo tanta gente se afogando em seus desesperos, que gastar meus devaneios parece uma alternativa para sair do relento que as vezes é a vida. Tenho uma breve teoria, de que existem dois tipos de vida: aquelas extremamente protegidas, que conseguem ter todo o amparo para serem pilares de referência, e aquelas que sobrevivem às margens, sem o mínimo para mandarem ao menos uma mensagem.

          Nesses tempos atuais, onde estamos retrocedendo em toda e qualquer evolução, se é que existe alguma contramão, acho que não quero entender mais nada, acho que o tanto de coisas que tenho já me basta, ou me deixa demasiadamente vasta. Sei lá, muita vida destrói um pedaço da alma, pois a gente se vê num excesso de ciladas, transpondo eventos dos quais nem pertencemos. Será que teremos algum sossego? Quanto mais tempo passo relembrando os momentos, parece que os sentidos mais absurdos se fazem feitos em todos esses lamentos.

          Acho que vou parar com esse desassossego, ocupar melhor o meu tempo, desafiar alguns conceitos nessa solidão de entendimentos. Não sei bem ao certo, e acho que nem vou saber. Será que isso é viver? Uma eterna incerteza com um excesso de anseio pelo desconhecido. Que descabimento! Achar que isso é a vida, deveria ter um plano mais concreto para todos esses decretos. Já nem sei mais os limites da vida, pairando nesse ar de poluição fria, estão todos os meus bloqueios. Só estou tentando passar despercebida. Acho que é um pouco de caos e de mentira, mas por hora vou permanecer aqui, encolhida.