Autorretrato - Encontros

     Que encontro, feito de vida e de sonho, um espaço fugaz de realidade que jamais conseguiremos reencontrar. Pensei agora mesmo que faz tempo que não falo com você, meu querubim, pois já faz um tempo que não consigo mais estar no céu, e nem no inferno. Gostaria de entender se temos asas para voar, por que ficamos a nos arrastar?

    Decidi que vou ter que ficar a me reencontrar, já não dá mais para adiar essas urgências da alma. Não é que estava a fugir, parece que estava me despindo para chegar neste lugar, sem espelhos e repleto de medos. Dessa vez não parece que preciso me enterrar, preciso viver, vai entender.

    Não desci mais inspirada, caí com o tiro na culatra, encurralada em um mundo que não consigo mais sustentar. Você pode só estar me ouvindo agora, mas isso tudo não é de hoje, meu doce querubim. Pode até parecer abrupto assim, mas fico guardando e remoendo os entendimentos, até decidir soltar a corda. A queda do precipício é só uma questão de perspectiva.

    Desculpa se da última vez saí na correria, estava no desespero de me encontrar, tinha essa insana ideia de querer levitar. Agora estou caminhando, as vezes até mancando, mas preciso ainda desse espaço para divagar. Entre o céu e o inferno, talvez esteja longe do que é certo, talvez só esteja perto.

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