Autorretrato - Divisão de bens

    Foi a divisão de bens, e calhamos em nos ver. No meio de todos os desesperos e entre todas as barreiras, fomos nós quem se desencontrou no tempo. Caminhávamos juntos, e de repente nos vimos em estradas separadas. Pode ser que só nos cruzamos, ou tropeçamos. Em qual realidade estamos?

    Acho que no final das contas os trilhos sempre estão separados, por mais próximos e conectados que pareçam. Podemos compartilhar rumos e cargas, mas sempre podemos sair do prumo, sentir um novo sentido direcionando o convívio. Vivemos de impulsos, só precisamos saber o impacto da queda para continuarmos em movimento.

    Às vezes precisamos de tempo, para nos recuperar dos nossos próprios desejos. Somos maré, que avança e regride, e às vezes somos tsunami, recuando muito antes de destruir as bases para construir um novo caminho. Tudo pode ser muito positivo, e negativo. Tudo, pode ser muito pouco.

    Queria saber mais, parar de dizer palavras ao vento, mas não sei se assim vou me escutar. Quero tudo muito simples, mas acabo sendo muito complexo que a margem do tempo não me mede. Parece um tanto extremo, mas é um conforto. Falhamos no amanhecer, falhamos em nos ver, então só cabe agora nos reconhecer, entre as muralhas, segurando migalhas.

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