Autorretrato - Barba Ruiva
Olá. Já fazia um tempo que não me encontrava com a sua figura. Você está um tanto diferente para mim, mas acho que depois da nossa última conversa, isso era o mínimo de se esperar. Eu não sabia o que tanto escondia, e realmente me aguçava a curiosidade esse meu não entender, mas tinha algo que eu já sabia, que precisava me cobrir com uma feição de inocência, ou não sobreviveria.
Sua cor está um tanto confusa, pode ser o reflexo desse tempo. Achava que eu estava presa, mas agora percebo que tudo é muito mais cruel e ostensivo, que a vida não vai me pegar pela mão e me pedir em casamento, e sim me enganar com as armadilhas dos lugares que me moldaram para estar, para me puxar pelo braço e me afogar no seu desespero. Não sou eu quem vai te salvar dos seus medos.
Estão esperando que eu vá ser a boa mulher, que eu fique, para de todos cuidar com o meu amor e carinho, mas esqueceram que eu me forjei na mancha de vinho tinto, não tive amparo, então criei fugas. Acho que foi assim que nos encontramos pela primeira vez. Já não posso mais estar na inocência das almas recém chegadas, já tenho a cara lavada.
Acho que não esperavam esse encontro com a realidade, que eu fosse entender suas verdades e conversar com a sua sanidade. Estão me julgando insana agora, pois abandonei esse disfarce de inocência, para entender que fui enganada pela minha dormência. Mas, por enquanto, só eu pareço estar acordada.
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