Autorretrato - Acento

    Mudei meus acentos para entender esses desejos, de um tanto, de um jeito. Já não sei mais o que limita um conceito. Parece que as luzes estão ascendendo, e quanto mais entendo o que sou nos momentos, mais insana vejo que são essas compreensões. Será que é o destino da vida trilharmos todos esses caminhos sozinhos?

    Pensei em compartilhar toda a podridão, as luzes e a escuridão, o pensamento e a ação, mas não é possível continuar nas margens do seu afeto assim. Vim romper o tempo, entender a capacidade que temos de ultrapassar todo esse desespero. Sou muita introspecção para pouca fala, mas sou muita ação, se é que tudo isso é possível. Parece que fervo por dentro. Percebo agora que sou um rio escuro, de superfície calma e correnteza intensa.

    Acho que desaprendi a escrever narrativas, histórias que encerram o parágrafo com um fim esperado. Eu termino ciclos, encaminho mudanças de almas desesperadas. Talvez você só venha a me ver uma vez. Sou o que é necessário, mas o contrário do descaso, com a distância que permite a ignorância ou a falta dela. Vim aqui findar, pode estar aí a minha constante necessidade de mudar.

    Mas não se apresse, isso não significa rapidez ou volatilidade líquida nesses tempos digitais. Sou o tipo de mudança que acontece com a destruição, levo um tempo para a corrosão. É, eu sei, não sou nada leve. Será que essa divagação é suficiente para entender a solidão?

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