Autorretrato - Ou

     Acho que vim para esse mundo em partes, sinto que falta intensidade para todos que estão em volta, pareço sempre a eterna exagerada, completamente deslocada. Seria tudo isso um excesso de falta? Parece que estou sempre a buscar, e não sei nem se quero encontrar.

    As vezes acho que sou ridiculamente óbvia, e as vezes acho que sou confusamente efêmera. De qualquer maneira, fico sem ninguém para me entender, parece que me enterrei em um buraco, tão fundo que ninguém consegue me alcançar. É sufocante, compreendo, é muito peso.

    Não sei se foi muito sofrimento, ou se já nasci com essa falta de apego, ou se me viro tanto do avesso que as pessoas perdem a referência. É um eterno dilema,  pois só me acompanha quem encara o grotesco, e, ao longo da vida, já percebi que são poucos os que tem esse desapego com a beleza.

    Tem momentos que acho que sou de menos, mas na maioria penso que sou demais. Analisando com mais cautela, penso que é a combinação dos dois, pouco do que valorizam e muitos conflitos, pouco do que é material e muito do que é surreal.

    As vezes penso que não cheguei nesse mundo, e acho que nem vou chegar, pois a insanidade que está aqui não me atrai, e nem distrai. Não sei se pertenço, ou se é necessário um tanto de gente  estranha no mundo, que não consegue seguir as normas e acaba mudando as rotas.

    Não sei se é falta de apego, ou se é arrogância, se não me importo em ter fim, ou se acho que nada vai me findar. Fico entre ser especial, e ser só mais um. Pode ser angústia, ou alívio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Autorretrato - Capítulo Vinte e Nove - Os pedidos lacrimejantes

Autorretrato - Capítulo Trinta e Seis - Permanência oscilante