Hipo(crê)sia - Vida carcumida

Maldita vida carcumida, pedaço de pão sem recheio e barriga cheia de lombriga, é a realidade dos nossos dias. O pé do moleque que tá cheio de bolha de não parar de andar, combina com a tia caolha por falta de escolha. É a pobreza que senta com nós na mesa, e cê só não bebe dessa água porque não é encanada. Aqui a centelha é obra de quem tem muita telha, e se acha no direito de bancar o divino e decidir para quem vai tudo isso. Pra nós sobra os abrigos, onde a gente perde a noção que tá vivo. Na minha terra só governa quem tem dinheiro na mão. Pro resto sobra aprender a fazer sabão, e viver de supetão até que a vida termina, sem mais e nem menos. A gente só vive até o final do dia, é a opção que temos nessa vida. Se preocupá com o amanhã é pra quem tem a cabeça vazia, pra quem não precisa sair todo dia atrás de comida, pra quem não precisa gastá o dia pra ter um pedaço de pão, então consegue espaço na cabeça pra pensá mais que um dia por vez. Nós fica de sobra de comida pros bicho que precisa sobrevivê, quando tá vivo pro bicho do homem rico, e quando tá morto pros bicho da terra que falam que não é nossa, mas a gente nasce, cresce e volta pro lugar que é nosso direito, como todos os outros.

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