Autorretrato - Capítulo Vinte - Escritas intimistas

    Acho que essas escritas intimistas psicológicas que evidenciam meus conturbados diálogos internos, confusos por sinal, não me levam a lugar algum. Essas escritas são súplicas e desabafos que ninguém está interessado em ouvir, não temos tempo para esse monólogo da alma.
    Neste mundo capitalista é preciso muito dinheiro para poder se dar ao luxo de andar com calma, ou ter aquele tipo de desgraça em que andamos sem medo pois não se tem mais nada a perder, ou sem pressa pois não se tem nenhum lugar para chegar. As maioria prefere a riqueza, pois já nascemos com a desgraça.
    Quando manifesto meus pensamentos e sonhos, faço a vida parecer uma obra de caridade. O que é mais ridículo é eu pensar isso de mim mesma nessa absurda velocidade, pois essa é a maneira como esse mundo me ensinou a viver e ser. Deveria apenas pensar que é muito diferente dos valores mais aceitos pela sociedade, mais aí a frase fica muito longa.
    É um tanto assombroso, pois a minha arte me leva a tantos lugares, mas para nenhum lugar válido pelas renomadas instituições financeiras. Então eu fico aqui, inválida e marginalizada, sonhando e esperando sei lá o que.
    É quando vem uns faniquitos sobre exatamente o que estou esperando que preciso urgentemente escrever, para aliviar a mente. Não é fácil satisfazer essa alma insana. Sinto que fico assim, pulando pelos meus desejos, sem caber direito em qualquer espaço, e egoísta demais para sossegar o facho.
    Como não consigo parar, fico jogando as palavras ao vento, desperdiçando meu tempo. Admiro quem olha para o mundo como escolhas óbvias e se contenta com o que vê. Fico imaginando todas as possíveis realidades paralelas que poderiam existir.
    A cada piscada de olho tenho uma crise existencial. Gostaria de estar simplesmente satisfeita, plena e coerente, mas essas malditas escritas psicológicas que não param de me incomodar, não sabem me deixar.

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